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Na comunidade indígena Taracuá, em São Gabriel da Cachoeira, Ufam realiza primeira outorga de grau em terra Indígena da história da Instituição

Publicado: Segunda, 01 de Agosto de 2022, 09h39 | Última atualização em Sexta, 05 de Agosto de 2022, 16h54 | Acessos: 2439
A solenidade faz parte de um cronograma voltado à Licencitatura Indígena do IFCHS, pelo qual a Ufam formará novos profissionais em Santa Isabel do Rio Negro, Tunuí Cachoeira e Maturacá
 
Por Ana Carla Santos 
Equipe Ascom Ufam
 

Situada a mais de 850 km em linha reta de Manaus, a comunidade de Taracuá, às margens do Rio Valpes, recebeu a comitiva da Universidade Federal do Amazonas em que pela primeira vez, a outorga de grau se deu no polo onde as aulas são ofertadas. Dos cinco distritos do Alto Rio Negro, a Ufam vai percorrer, até meados de agosto, três deles: Tarucuá, Maturacá e Tunuí Cachoeira. Os demais são Pari Cachoeira e Cucuí.



Ao todo, foram 28 novos profissionais de Licenciatura Indígena: Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, um curso em nível de graduação do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS), no modelo pós-feito, em que as disciplinas são eleitas a partir de alinhamento entre os discentes e o professor do curso. As aulas são ministradas no próprio idioma da etnia e necessita de tradutor para o português. 

A solenidade de outorga faz parte de um cronograma voltada à Licencitatura Indígena do IFCHS, pelo qual a Ufam já formou novos profissionais em Santa Isabel do Rio Negro e formará, ainda, em Tunuí Cachoeira e Maturacá, ambos em São Gabriel da Cachoeira (yanomami).   

Seguindo a ritualística pertinente à etnia, a colação de grau em Taracuá, do povo Tukano, foi marcada pela dança. Foi o cariçu quem abriu a cerimônia e que deu as boas vindas à comitiva do reitor. Com ele, à mesa da cerimônia estavam a diretora do IFCHS, professora Iraildes Caldas Torres, o paraninfo da turma, professor Maximiliano Corrêa, o coordenador do curso de Licenciatura, professor Nelcioney José de Souza Araújo e representantess da Câmara Municipal, o vereador Rafinha e Hernane, além do vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Nildo Fontes e o representante da secretaria de Estado de Educação e Desporto (Seduc), Domingos Sávio.


"Agradecemos à Ufam e a todos os que nos ajudaram a chegar aqui, desde as nossas famílias, ex-professores e coordenadores mínimo, mesmo que fosse para preparar o nosso alimento ou ligar e desligar o gerador da comunidade para que tivéssemos aula. Hoje, meus amigos, fazemos história. Pela primeira vez recebemos o reitor aqui e isso é um incentivo para a nossa comunidade. Meu desejo é que todos da nossa comunidade tenham a mesma oportunidade". 

Nildo Fontes, vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), falou na língua tukano. "Chegou o grande dia, dia em que vem à memória de quando pensaram em desistir e que hoje vemos que valeu a pena esperar. Se hoje estamos alcançando um objetivo, em parceria com a Ufam, é porque acreditamos nesse projeto sustentável nas terras indígenas e sabemos que nós, com conhecimento, passamos a fazer parte de um marco na nossa comunidade". 

Com uma história particular com a Ufam, Domingos Sávio, diretor regional da Seduc, egresso da primeira turma formada pela Ufam em SGC, de Filosofia, considerou a construção de consciência crítica muito necessária aos povos indígenas. "Somos todos os dias testados e vemos nossos direitos sendo usurpados, por isso precisamos estar na vanguarda. Para nossa comunidade, nós somos os que eles depositam esperanças, então façamos por onde nos fortalecermos e levarmos nossos conhecimentos ao Valpes, Içana e Rio Negro (nomes de rios e onde há comunidades e polos de licenciaturas)", sugeriu. 

Em seu pronunciamento, o coordenador do curso, professor Nelcioney José de Souza Araújo, fez menção a passagens históricas e bíblicas, numa metáfora aos desafios impostos na execução das aulas em polos tão distantes da sede. "Em 1923, os salesianos vieram e passaram a contribuir com parte dessa história, tecendo enredando caminhos para que Foirn, ISA e professores da nossa instituição pudessem também deixar marca, como Frantomé Bezerra Pachêco, Luiz Fernando de Souza Santos e Higino Tenório (em memória) e a docente aposentada, professora Ivani Ferreira...Mas, há muito o que se contar ainda. Queremos que vocês sejam nossos futuros professores, afinal, por que razão trazer gente de fora se vocês estão se preparando para isso, para ocupar esses espaços?", questionou. "Acreditamos que teremos um dia uma Universidade Indígena no Brasil. Sonhamos e vamos em busca de realizar e vocês estão vivenciando esse momento de construção", finalizou. 

O professor Maximiliano Correa Ribeiro, paraninfo da turma, lembrou que Taracuá foi sede para a prova de seleção, não somente polo do curso. "Vocês tiveram vários desafios e lidaram como guerreiros da educação, sempre demonstrando o interesse sobre como queriam se tornar pesquisadores e formadores de opinião em seu espaços. Hoje, desejo que os espíritos de nossos ancestrais continuem a iluminar vocês", disse. 

O vereador de SGC, Rafinha observou o quanto, mesmo diante das interpéries, a Ufam vem assumindo compromisso com os povos indígenas. "Antigamente a gente via a Ufam só existindo na capital, depois, chegou a São Gabriel e hoje a vemos aqui, na comunidade. Acredito que ainda veremos nos próximos anos, a Universidade indo pra mais perto do nosso povo", disse. 

A diretora do IFCHS, Iraildes Caldas Torres, falou de sua convicção sobre a educação como viés para os desenvolvimentos regional e social. "A educação não é só benefício para quem recebeu grau, mas para a coletividade. Eu, que sempre lutei pela causa Indígena, nunca vi a Ufam em comunidade Indígena o que é um feito ao longo de seus mais de 112 anos quando se fala de solenidade de colação de grau. Estamos dando um passo à frente na concepção de universidade que se reconhece nas mulheres Indígenas, nos ribeirinhos, nos quilombolas. Isso é inclusão social", considerou. 



Ao finalizar a solenidade, o reitor se pronunciou, percorrendo a cronologia da história da Ufam com as comunidades indígenas. "Na década de 1980, o saudoso professor Paulo Monte foi um dos precursores e defendeu a ideia de que a Ufam  deveria estar na calha do Rio Negro. Foi a partir dele, que outros também o fizeram e ainda fazem porque a pauta é um compromisso de mobilização e seus resultados frutos de esforços coletivos. Faço uma menção à memória dos ex-coordenadores do curso, professores Frantomé Bezerra Pachêco e Luiz Fernando de Souza Santos e ao professor Higino Tenório (em memória) e também às contribuições da professora aposentada Ivani Ferreira e do técnico-administrativo, Silvio teles, também do IFCHS. Vocês conseguiram algo absolutamente importante na luta de vocês, uma vez que a Ufam não trabalha sozinha, agregando poderes legislativos, instituições. Hoje, estou muito feliz por vocês terem nos ajudado a escrever uma das páginas mais bonitas da nossa instituição", afirmou. 

 

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