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Na comunidade indígena Tunuí Cachoeira, em São Gabriel da Cachoeira, Ufam realiza colação de grau da turma Baniwa

Publicado: Segunda, 01 de Agosto de 2022, 11h01 | Última atualização em Segunda, 01 de Agosto de 2022, 12h16 | Acessos: 2205

 

Por Carla Santos

Ascom Ufam

Tunuí Cachoeira é uma comunidade indígena de maioria baniwa que recebeu, no último dia 28 de julho, a comitiva da Ufam para proceder à colação de grau da turma de Licenciatura Indígena de Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS). 

Ao todo, foram 30 novos profissionais formados que agora poderão contribuir com seus conhecimentos, aliando saberes tradicionais e acadêmico-científicos observando as especificidades de língua e cultura do modelo educacional indígena, do município mais nativo do País, que é São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros em linha reta de Manaus. 

Além de Tunuí Cachoeira, a Ufam também outorgou graus em Santa Isabel do Rio Negro, Taracuá e ainda formará em solenidade que deve acontecer em Maturacá. Estas duas últimas são comunidades indígenas e todas tiveram a presença do reitor da Instituição, professor Sylvio Puga, o que representa um fato histórico para os registros da Instituição. A passagem da comitiva por SGC também levou novidades sobre pós-graduação em SGC, já a partir de 2023. 

A mesa do evento, composta pelo reitor, também contou com a diretora do IFCHS, professora Iraildes Caldas Torres, o coordenador da Licenciatura, professor Nelcioney José de Souza, os representantes da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Dário Casimiro e Secretaria de Estado de Educação e Desporto (Seduc), Juvêncio Cardoso, respectivamente, e o líder da comunidade, 'capitão' Sebastião Apolinário, Além dele, o vereador Orípio Júlio.

Como patrono e paraninfa, o professor João Lino de Oliveira Neves e a professora aposentada, Ivani Ribeiro, tiveram seus nomes respectivamente registrados, dadas as suas ausências.  

O orador da turma, Sérgio Camico da Silva, ressaltou o apoio do movimento indígena à oferta do curso e também as parcerias firmadas para que ele fosse possível de ser realizado. "Tivemos apoio de todos e ultrapassamos esses dias de angústia e inquietação com a certeza de que a educação deve ser valorizada e serve como ponte para nos unirmos e alcançarmos mais conquistas. Sem esforço não vamos adiante e sabemos o quanto nos esforçamos para estar aqui, ou porque não tínhamos combustível para as nossas embarcações ou porque a própria pandemia deixou em suspenso a esperança de que pudéssemos prosseguir com o curso. Mas, por fim, o momento mais aguardado por nós, chegou", disse, em tom de comemoração. 

Um dos entes de cooperação da Ufam para promoção do curso, a Foirn, também teve fala durante a cerimônia. "A bagagem intelectual de vocês está mais completa com este diploma e com ele, nós seguimos em prol da educação para a melhoria do nosso povo, da nossa comunidade. Esse é um ciclo que se encerra para que outros se iniciem, ainda com mais responsabilidades. Daqui em diante serão orientadores e formadores com compromissos e responsabilidade de orientar e liderar a formação da nova geração do povo Baniwa e Koripako. Serão protagonistas do nosso processo histórico como Medzeniakonai e na consolidação da educação escolar indígena no Rio Negro, no Amazonas e Brasil", disse Dário Casimiro, diretor da Federação.

O pronunciamento do coordenador da Licenciatura, professor Nelcioney José de Souza Araújo, se  foi da troca de experiências entre não brancos e indígenas. "Tenham a certeza que quando saímos daqui, estamos transformados, afinal aprendems muito mais do que ensinamos. Estamos dentro de um Brasil excepcional, com indíviduos excepcionais e que poucos têm a chance de vivenciar e conviver. Nosso papel aqui é de dar suporte a vocês, porque vocês sabem aonde querem chegar, então vamos pavimentar o caminho para que assumam o protagonismo", disse. 

O representante da Seduc, Juvêncio Cardoso, falou das parcerias. "É um momento histórico, uma conquista. O povo baniwa em meados do mês passado selou um acordo de cooperação com  educação/USP, que vem depois do tratado com a Ufam. Ou seja, a Ufam, vem nos permitindo expandir novos horizontes", observou. 

A diretora do IFCHS, professora Iraildes Caldas Torres salientou a importância da educação Indígena diferenciada para o Alto Rio Negro. "O fato de quatro turmas conseguirem formar seus alunos é um fato histórico, um ato de resistência e nós temos acompanhado isto desde 1986. Nós sabemos dessa vocação da Ufam e é isso que ela significa, ser universal, tal qual seja o significado de universidade", frisou. Ela fez ainda agradecimentos à professora Ivani e ao professor Lino, por suas vidas dedicadas à causa da educação indígena. 

Junto ao reitor, a diretora também anunciou para janeiro de 2023, a implementação do curso de mestrado Sociedade e Cultura na Amazônia, fincado em São Gabriel da Cachoeira. 

"Enfrentamos mais de seis horas para chegar aqui e poder cumprir com nosso papel social com a causa indígena. Não há cansaço, não há distância, há missão e viemos cumpri-la com muita felicidade e que iremos continuar juntos de vocês. Aprendemos de maneira dolorida, com o advento da pandemia, que temos de pensar em soluções e as tecnologias são algumas delas. A exemplo disso, assinamos recentemente, um acordo com o Ministério da Saúde para trazermos para o interior do estado, consultas com especialistas por videoconferência e SGC está entre os municípios contemplados. A mediação por ferramentas tecnológicas é uma realidade e nós estamos nos adaptando", disse. 

Por fim, o reitor fez uso da metáfora para dizer que a colação não é o fim, mas o começo de uma nova etapa da vida dos já profissionais. "Antes da solenidade, caiu uma forte chuva sobre Tunuí, que está localizado sobre um monte. A chuva, nas nossas crendices, é uma benção e o diploma que vocês recebem, alinhavado com fios cor de ouro, a bonança. É a colheita da semeadura que fizeram, é resultado do esforço de vocês. Vejam, a nossa responsabilidade não termina, ela redobra e a de vocês, igualmente, em especial para com o seu povo. Aproveito esta valorosa oportunidade e para reconhecer os feitos daqueles que iniciaram essa jornada: os ex-coordenadores do curso, professores Frantomé Bezerra Pachêco e Luiz Fernando de Souza Santos (em memória) e ao professor Higino Tenório (também em memória) e às contribuições da professora aposentada Ivani Ferreira e do técnico-administrativo, Silvio teles, do IFCHS", finalizou. 

 

Sobre a Licenciatura indígena

A região do rio Negro, noroeste da Amazônia é território de 23 povos indígenas pertencentes às famílias linguísticas Tukano Oriental, Japurá-Uaupés (anteriormente denominada Maku), Aruak, Tupi e Yanomami, que perfazem 95% da população e da extensão territorial do município de São Gabriel da Cachoeira (112.000.000 ha). Isso faz dela a região com a maior diversidade linguística do Brasil e do continente americano. Sua população total é de 29.951 habitantes, embora a prefeitura faça uma estimativa atual de 46.000 habitantes, distribuídos em 427 comunidades.

Vale ressaltar que este curso é desenvolvido não apenas na região com a maior pluralidade linguística do País, mas também em duas das maiores terras indígenas já demarcadas no Brasil. A primeira, Terra Indígena Yanomami demarcada em 1992 e a segunda, Terra Indígena do Alto Rio Negro em 1998, impar no país por ter sido demarcada de maneira contínua em um único território para 22 povos indígenas.

 

 

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