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Egressos de Geologia da Ufam são aprovados em um dos concursos mais difíceis do país

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O que é Geologia? Uma resposta bem simples seria: é a ciência que estuda a Terra, a superfície e o interior do planeta Terra. Mas isso não mostra com clareza qual o trabalho da Geologia, então, como bem ensina a didática, vamos usar exemplos para que a informação fique mais próxima da realidade: Os vulcões são parte do estudo da Geologia. Eles são encontrados na superfície do planeta em áreas onde estão as famosas placas tectônicas e são capazes de produzir um fenômeno tremendamente lindo e tremendamente assustador, as chamadas erupções vulcânicas, que todo mundo sabe o que é. 

A Ufam possui dois vulcões ativos que recentemente entraram em erupção! É impressionante ver a força, a potência deles! Eles são chamados de Melrian Fernandes Vasconcelos (23) e Bruno Silva de Souza (25), egressos do curso de Geologia, que foram aprovados em uma das seleções mais desafiadoras do Brasil: o concurso da Agência Nacional de Mineração (ANM).

 

A Origem dos Vulcões

 

“O vulcão é uma estrutura geológica (massa de rocha fundida pela alta temperatura) que corresponde a uma proeminência na superfície terrestre, mais especificamente uma abertura no solo pela qual é expelido material magmático. Os vulcões podem surgir por meio do movimento entre as placas tectônicas, que, ao chocarem-se, provocam elevações na superfície. Os vulcões podem estar localizados tanto nos continentes quanto nos oceanos.”¹

Como uma construção da natureza, os vulcões surgem principalmente do movimento das placas tectônicas. Tudo começa com elas. As histórias dos vulcões da Ufam também se iniciam antes mesmo de eles existirem. 

O Vulcão Melrian

A história de Melrian também se inicia no Pará, já que seus pais precisaram deixar o interior da região de Santarém porque seu pai iria servir às forças armadas no Amazonas. Na época, início dos anos de 1990, nenhum dos dois havia concluído o ensino médio. “Meu pai já tinha planos porque naquela época vir para Manaus significava tentar melhores condições de vida. Foi quando ingressou no Exército e realmente precisou vir para servir aqui, e minha mãe veio junto com ele. Eles terminaram o ensino médio muito tempo depois, por meio do EJA/supletivo. Acredito que tenha sido quando minha irmã era pequena ainda”, conta a egressa.

Melrian nasceu em Manaus, tem 23 anos, e é a caçula de duas meninas. “Em termos financeiros, meu pai sempre foi o responsável pelo sustento da família. Ele é autônomo (dividindo o trabalho entre pedreiro e guia de sobrevivência na selva) e minha mãe é dona de casa”, diz Melrian. “A educação formal sempre teve uma grande importância na minha família. Meus pais foram os meus maiores apoiadores, e desde cedo, aprendi que o principal caminho que eu poderia seguir para conquistar estabilidade, independência e melhores oportunidades era através dos estudos”, revela. 

O Vulcão Bruno

Nascido no interior do Pará, no município de Itaituba. Bruno veio para Manaus aos 6 anos de idade com sua mãe, seu padrasto e mais três irmãs. “Vivíamos na casa da minha avó, com minhas tias e primos. A casa vivia cheia! Minha mãe trabalhava de frentista para sustentar minha irmã mais velha e eu, e passava pouco tempo em casa”, expôs Bruno. “O fato de estar em uma capital trouxe mais oportunidades do que eu teria caso continuasse em Itaituba”, disse. “Sempre tivemos uma condição muito simples. Jamais faltou comida na mesa, mas fui muito privado de oportunidades de estudo, cultura e lazer pela margem financeira apertada da família. Apesar da infância simples, eu sempre costumo exaltar o privilégio de poder apenas estudar, sem precisar me preocupar com a provisão da casa. E isso é um grande incentivo, na verdade”, relata.

Com o pai ausente, a mãe apenas com o ensino fundamental e o padrasto com o ensino médio completo, Bruno foi para a escola por incentivo da mãe e do padrasto que viam na educação a possibilidade de um futuro melhor para os filhos. “Ela engravidou muito cedo, e isso forçou a parada nos estudos. Minha mãe concluiu o ensino médio aqui em Manaus, com 35 anos”, registrou. “Sempre me foi ensinado pela minha mãe e pelo meu padrasto que o estudo era o melhor caminho. Eu sempre estudei por necessidade. Então, nunca fui adepto à leitura. Tive pouco acesso a livros também, o que favoreceu a falta de interesse. O hábito de leitura é algo que estou tentando incorporar atualmente, na verdade. Até então, apenas leitura de material didático, necessário ao cumprimento de objetivos escolares”, comenta.

As Partes de um Vulcão

 

 

“Os vulcões são estruturas geológicas constituídas por cone vulcânico, chaminé, cratera e câmara magmática.”¹

Para que uma estrutura geológica seja reconhecida como um vulcão, ela precisa apresentar os requisitos básicos para tal. No caso dos vulcões da Ufam, eles também precisam ter a formação básica para serem reconhecidos como criações excepcionais da natureza. 

 

A Constituição do Vulcão Melrian

 

Melrian iniciou seus estudos em casa, com sua mãe, para não ter que esperar um ano todo quando, então, poderia ser matriculada em uma escola de Ensino Fundamental com a idade mínima. Dessa forma, não precisou fazer a alfabetização e já “pulou” uma série do Fundamental. Assim, quando ingressou na Escola Municipal Professor Álvaro César de Carvalho, onde cursou até o 6º ano, já sabia ler e escrever. Foi lá também que ela avançou do 2º para o 4º ano por apresentar desenvolvimento suficiente para isso. Do 7° ao 9° ano, a geóloga estudou na Escola Estadual Jairo da Silva Rocha e o Ensino Médio na  Escola Estadual Roderick Castelo Branco. “Sempre tive mais afinidade com as disciplinas de exatas na época da escola do que as disciplinas de humanas, embora minha disciplina favorita sempre tenha sido Geografia. O meu esforço maior na escola sempre foi para que chegasse no final sem nenhuma preocupação com relação às notas. Sou uma pessoa perfeccionista, então sou alguém que se cobra e/ou cobrava muito com relação aos estudos”, lembra.

 

A Constituição do Vulcão Bruno

 

Já Bruno estudou o Fundamental na Escola Municipal Roberto Ruiz Hernandez (do 1º ao 5º ano) e na Escola Estadual Dom Jacson Damasceno Rodrigues (do 6° ao 9° ano). No Ensino Médio, ele frequentou a Escola Estadual Ernesto Penafort. “Sempre fui um aluno bastante esforçado em ambas as fases. No fundamental, me deram a opção de realizar uma avaliação para avançar uma série (do 4° para o 5°) no mesmo ano, por entenderem que eu estava adiantado no conhecimento. Eu passei, e avancei. E desde essa época, virei o caçula de todas as turmas posteriores. No ensino médio, fui eleito aluno destaque algumas vezes. E na própria Universidade, recebi o certificado de melhor rendimento acadêmico do curso no ano”, recorda. “Sempre tive em mente que essa era a única opção, então investi todas as energias nisso. Confesso que não sou um grande amante dos estudos, e até por isso não tenho a cultura da leitura ocasional. Sempre estudei estritamente para fins acadêmicos. É uma cultura que estou tentando mudar agora, adulto. Exceto para as minhas amadas matemática e física. Essas sim, eu estudava por prazer. Era quase terapêutico resolver listas de exercícios”, confessa.

 

O Ensino Superior - UFAM

 

Vulcão Melrian

Mesmo sendo a mais nova do seu núcleo familiar, Melrian foi a primeira a cursar o ensino superior e em uma universidade federal. “Poder ingressar em uma universidade pública não foi apenas uma conquista pessoal, mas coletiva. Até porque há alguns anos, essa era uma realidade relativamente distante para nós”, comentou Melrian, que ingressou na Ufam em 2019 e formou em 2025. “Meu desejo pela Geologia surgiu ainda no ensino médio. Honestamente, até o terceiro ano eu estava em dúvida entre ela e o bacharelado em Geografia, mas após a visita a uma feira de profissões, descobri algumas particularidades das disciplinas do curso, que me levaram a escolher a área da Geologia”, completou.

 

“A formação universitária teve um papel fundamental para que eu chegasse até aqui. Em grande parte porque a Ufam e, principalmente, o Departamento de Geociências, foi o espaço onde construí não apenas o conhecimento técnico necessário, mas também a forma de pensar e buscar soluções. Habilidades essas  que fizeram toda a diferença na preparação para o concurso. Essa aprovação tem todo o crédito do Departamento de Geologia da Ufam, mas principalmente de todos os docentes que me acompanharam em todos esses anos.”

 

Vulcão Bruno

Bruno também não tinha referências dentro de casa sobre formação em nível superior, mas isso não o impediu de considerá-la como um sonho possível. “Desde sempre eu sabia que era possível, principalmente pela quantidade de vestibulares. Mas, de fato, para quem tem o ensino em escolas de bairro, que tem dificuldades estruturais crônicas, naturalmente larga atrás na disputa”, avalia. “Foi um alívio quando saiu o resultado. Na época, eu me pressionava muito por isso, e fiquei extremamente feliz por ter conseguido. A pressão nessa fase da vida é descomunal, e uma conquista assim lava a alma”, relata sobre a aprovação na Ufam em 2017, na qual se formou em 2023. “Sempre fui um aficionado por Física, Matemática e Astronomia. Quando estive naquela aflição da escolha da carreira para a vida, ponderei as que poderiam me fazer ter uma condição financeira mais favorável. Acabei passando em alguns cursos na Ufam e na UEA, entre eles Geologia, Física, Engenharia de Petróleo e Gás, e Direito. No fim das contas, optei pela Geologia de última hora, no dia da matrícula, por julgar que unia todas as minhas ânsias de hobby e de futuro”, ponderou.

“Meu conhecimento adquirido na Ufam já foi testado em cursos Brasil afora, e pude constatar a qualidade do ensino. O Departamento de Geologia merece todos os créditos nessa aprovação, porque teve um papel crucial. Fiz outros concursos e acumulo aprovações em outros órgãos, a exemplo de IBGE, ICMBIO e IBAMA.”

Depois da graduação, Bruno fez sua pós-graduação em Residência em Geociências, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em parceria com o Serviço Geológico do Brasil.

 

Causas da Erupção Vulcânica

 

“Um vulcão entra em erupção devido às forças internas da Terra que mantêm o manto e, consequentemente, o material magmático em atividade. A litosfera terrestre possui blocos rochosos fragmentados, conhecidos como placas tectônicas, que se encontram em constante movimento.

Ao movimentar-se, essas placas provocam agitação do material magmático. Essa agitação, associada às altas temperaturas no interior da Terra, faz com que o material magmático ascenda-se e seja expelido para o exterior da crosta terrestre. Essa massa magmática é conhecida como lava, composta por metais como magnésio e ferro e encontrada em uma temperatura superior a 1.000 ºC.”¹

A erupção vulcânica é um fenômeno incrível, não é? Mas você sabia que para que ela aconteça é preciso que algumas variáveis se encontrem como o movimento das placas tectônicas, a agitação do material magmático e as temperaturas no interior do planeta. A combinação certa dessas variáveis é que faz um vulcão entrar em erupção.

E quando a combinação das variáveis acontece também na vida das pessoas é impossível deter a força delas. Tal qual um vulcão ativo, elas mostram todo o seu potencial no momento devido. Foi assim com os vulcões Melrian e Bruno.  

 

O concurso da Agência Nacional de Mineração

 

Para o Amazonas, eram apenas duas vagas para o cargo pretendido (Especialista em Recursos Minerais - Especialidade: Geologia), com quatro avaliações no processo. Após cada etapa, os aprovados foram os egressos da Ufam.  

Com duas etapas envolvendo provas objetivas, discursivas, avaliação de títulos e ainda o curso de formação, o certame levou dez meses para ser concluído. “Na época em que o edital do concurso foi publicado, eu estagiava na Agência Nacional de Mineração. Então, eu diria que foi justamente a minha experiência lá dentro, conhecendo de forma prática e aprofundada tudo o que eu aprendia em sala de aula, que me influenciou a buscar a área da mineração e almejar futuramente poder trabalhar nesse órgão”, disse Melrian. “Concursos públicos para a minha área de formação não são muito comuns. E considerando uma entidade do porte e relevância da ANM, foi quase inevitável a preparação para a tentativa, uma vez que essa é uma oportunidade com periodicidade muito dilatada”, expôs Bruno.

Para Melrian, foi a primeira experiência em um concurso público. Sua rotina se dividia entre os estudos para finalizar a graduação, o estágio e a preparação para o certame. “Para minha sorte, o edital foi publicado no período em que finalizava as minhas disciplinas, restando somente o Trabalho Final de Graduação. Nesse caso, eu procurei priorizar o estudo dos assuntos que eu pouco tinha conhecimento (como os assuntos de administração pública e processos administrativos, que são conhecimentos gerais). E somente revisar os conteúdos de conhecimentos específicos, principalmente porque boa parte do conteúdo de legislação mineral, eu utilizava diariamente no estágio”, revela. 

Bruno já havia se graduado, feito e passado em alguns concursos, mas uma seleção complexa como a da ANM requer atenção exclusiva, não? Segundo o geólogo, sua experiência foi diferente. “Isso é um assunto curioso. Sempre que via as pessoas entrevistadas por aprovação em concurso, ouvia histórias de muitas horas líquidas por dia, redes sociais excluídas, meses, às vezes anos de preparação. E isso, para quem almeja uma tentativa, é assustador. Mas agora vejo que é muito pessoal. Todas as aprovações que conquistei, incluindo a ANM, foram, claro, com comprometimento, mas em um ritmo confortável, ao meu ver. Estudei no ônibus, estudei em horário de almoço, estudei quando chegava em casa, mas não abri mão do lazer quando julgava necessário, e nem precisei me exilar das redes sociais. Foi um período difícil, mas acessível, e que valeu cada minuto investido”, discorreu.

A cada resultado parcial, os dois seguiam para a próxima avaliação, até que em 21 de agosto foi divulgado o resultado final e os seus nomes estavam lá, respectivamente: 

 

Vulcão Melrian 

 

“Foi indescritível sem dúvidas! Um misto de orgulho e alívio. Poder ver o seu nome sendo publicado no Diário Oficial com a palavra aprovação ao lado foi fantástico; além disso, poder receber as felicitações de professores, amigos, colegas de faculdade e familiares não tem preço. Acredito que o principal significado, é que isso representa estabilidade e tranquilidade, em termos financeiros, especialmente para quem acabou de sair da Universidade; e de certa forma, é justamente essa estabilidade financeira que me permite  poder retribuir todo o sacrifício que os meus pais realizaram ao longo da minha vida.”

 

Vulcão Bruno

 

Fiquei muito feliz e aliviado, mas estava bastante confiante pelo desempenho. Inclusive, gabaritei a discursiva. Então, foi muito gratificante. Trabalhar em uma empresa como a ANM é o sonho de qualquer profissional na minha área de formação. Sempre fui uma pessoa muito confiante, e considero que tive um ensino de muita qualidade na Ufam. Inclusive, enquanto aluno, recebi um certificado de melhor rendimento acadêmico anual do curso. Com isso em mente, o número reduzido de vagas não me intimidou. Aproveitei o máximo de tempo para estudar, considerando que estava fazendo uma pós-graduação de 40h semanais. Enfim, foi um conjunto de fatores, sendo importantes a autoconfiança, uma boa base de ensino e o foco na preparação. Sou de origem humilde, então a aprovação em um concurso dessa magnitude representa um salto socioeconômico importante, que provavelmente impactará as próximas gerações familiares.”

 

Os dois foram empossados nos dias 13 (Bruno) e 31 (Melrian) de outubro.

 





¹ Portal Mundo Educação

https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/por-que-vulcoes-entram-erupcao.htm

 

 

 

 

 

 

 

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