Professor da Ufam, Marcos Cereto é curador na maior exposição de Arquitetura das Américas. 14ª Bienal de SP segue até o dia 19
Ao lado de Renato Anelli, Karina de Souza, Clévio Rabelo, Marcella Arruda e Jerá Guarani, professor Marcos Cereto ajudou a estruturar a mostra de projetos do Brasil e do mundo
Até este domingo, 19 de outubro, o Parque do Ibirapuera, em São Paulo-SP, recebe cerca de nove mil visitantes por semana, sendo mil deles nos dias úteis e aproximadamente quatro mil nos fins de semana, para a 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (IABsp). A exposição de trabalhos de autores brasileiros e de todos os cinco continentes em torno do tema “Extremos: Arquitetura para um mundo quente” tem Marcos Cereto, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), como um dos seis curadores.
Cereto, que é docente do curso de Arquitetura, abrigado na Faculdade de Tecnologia (FT), leciona, desenvolve projetos e publica sobre as temáticas abordadas nesta 14ª edição da Bienal. Ao lado de Renato Anelli, Karina de Souza, Clévio Rabelo, Marcella Arruda e Jerá Guarani, o professor da Ufam foi responsável por selecionar os mais de 200 trabalhos presentes na exposição, os quais foram produzidos por autores de 17 estados brasileiros e de mais de 30 países. Tudo isso está disponível de forma gratuita, ao longo dos quatro andares do Pavilhão da Oca. Para quem não está em São Paulo, é possível ter informações pelas redes socais e na página bienaldearquitetura.org.br.
A mostra é uma imersão em ideias e práticas inovadoras em torno de uma arquitetura sustentável, impulsionando os profissionais para que desenvolvam soluções capazes de fazer frente aos extremos impostos pelas mudanças climáticas, especialmente no contexto do aquecimento global. Segundo a organização, essa exposição caracteriza-se por ser “essencialmente propositiva, com foco em soluções, [retomando] a força da imaginação arquitetônica para a solução dos desafios contemporâneos”.
Pioneirismo
“É a primeira vez que eu participo na condição de curador da Bienal. Eu já tive a oportunidade de estar no evento apresentando trabalhos e também levando alunos, como ocorreu em 2013, quando levamos a primeira turma do curso de Arquitetura da Ufam”, informa o professor Marcos Cereto, que recebeu o convite para exercer o encargo ainda no mês de março de 2024. “Estar presente aqui é muito importante para nós, que vivemos e pesquisamos na região amazônica, pois mostra e valoriza a representatividade brasileira”, afirma ele.
Naquele momento, o Núcleo de Arquitetura Moderna na Amazônia (Nama), coordenado pelo pesquisador na Ufam, já havia sido premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IBA) na categoria cultura arquitetônica. O Nama reúne hoje pesquisadores, artistas e arquitetos de todos os estados da Amazônia Legal. “O prêmio veio em razão da atividade do grupo em prol da arquitetura na Amazônia. O convite surgiu devido a essa nossa atuação coletiva”, recorda o docente, que tem se dedicado ao estudo de temas como arquitetura resiliente na Amazônia, bem como ao desenvolvimento de pesquisas e projetos arquitetônicos nessa perspectiva.
Os trabalhos de curadoria iniciaram já em abril daquele ano (2024), inicialmente com três curadores, depois com a equipe completa. “A primeira missão da equipe foi a escolha do tema, e depois o formato da Bienal. Uma das questões que eram muito importantes era centralizar o evento no Parque Ibirapuera, onde nós definimos a Oca como o local específico, um prédio icônico com dez mil metros quadrados”, relata o curador sobre as primeiras decisões do grupo.
O segundo momento foi a definição da chamada de trabalhos, quando os curadores buscaram a participação dos países do Sul Global em relação à temática ambiental. “Na prática, eles [os países do Sul Global] são os mais prejudicados pelos impactos ambientais que, em grande parte, são submetidos pelos países do Norte. Por exemplo, em fevereiro, eu estive num evento do Brics, representando a Ufam, e aproveitamos para convidar esses países para colaborar com o debate”, explica o docente. Após esse período de articulações, a chamada aberta teve mais de 700 trabalhos inscritos, dentre os quais os participantes foram selecionados.
Em paralelo, foi realizado um concurso internacional entre escolas da área, também com a chamada aberta, para promover a participação de estudantes de arquitetura. Neste caso, uma comissão julgadora foi responsável por selecionar os 30 trabalhos em exposição na Bienal.
Expositores
Entre os participantes brasileiros, estão nomes já conhecidos na área, como Gabriela de Matos, MMBB e Grupo SP, além dos representantes da geração de jovens arquitetos que vêm redefinindo a prática contemporânea dessa profissão a partir de abordagens sustentáveis e experimentais, indo ao encontro da proposta do evento neste ano. Os trabalhos estão distribuídos em oito seções temáticas, entre as quais ‘Reflorestar o Urbano’, ‘Partimos das Águas’, ‘Construir Verde’, ‘Reduzir as Desigualdades’ e ‘Ficaremos Aqui’. Esta última, por exemplo, traz “construções experimentais em escala real e uso de materiais de baixo impacto ambiental”, segundo esclarece a organização.
A Ufam também levou seus representantes para o evento, tanto estudantes da graduação quanto do mestrado. “Eu gostaria de destacar três trabalhos que envolvem diretamente nossos alunos e egressos. O primeiro deles é fruto de um workshop que nós fizemos em 2024, em Manaus, em colaboração com uma universidade suíça, com a participação de cinco alunos nossos. O segundo é um trabalho final de graduação, defendido em 2024, sobre moradias anfíbias na Amazônia, que aborda as construções palafíticas (um tipo de moradia que faz parte da nossa cultura) a partir de uma preocupação ambiental”, enumerou o curador da 14ª IBAsp. Esses foram os trabalhos expostos por Larah Vasconcelos e Airton Fonseca, egressos de 2024. Inclusive, este último já cursa o mestrado no PPG em Design da Ufam (PPDG).
“Por fim, o último trabalho, Paisagens Fluviais, resulta de uma parceria entre o Nama, a USP [Universidade de São Paulo], a UFMS [Universidade Federal de Mato Grosso do Sul], a Universidade holandesa de Delft e o MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA]. Ele é o maior trabalho em exposição na Bienal, pois abarca todas as bacias hidrográficas existentes na América do Sul, e está localizado na seção Partilha das Águas. Como é um projeto em rede, o trabalho teve a colaboração de sete alunos da Ufam na parte correspondente à Bacia Amazônica. Os discentes puderam compartilhar experiências com os pesquisadores das demais instituições participantes. Inclusive, nós tivemos um workshop com a presença de pesquisadores do MIT e da USP em Manaus”, completa.
Pelo Nama/Ufam, o projeto Paisagens Fluviais está sob a coordenação do professor Marcos Cereto, sendo formado pelos seguintes membros: Isabella de Bonis (Nama/USP), Airton Fonseca(PPGD/Ufam), Lucio Maurilo(PPGD/Ufam), Sylvio Lasmar(PPGD/Ufam), Angelo Pontes, Bianca Cuvello, Julia Mendes, Larah Vasconcelos, Lannay Mello, Lorena Moss, Alex Martins, Beatriz Atem, Eliana Rego, Ester Komorowski, Giovana Damasceno, Giovanna Assis, Isabela Cavalcante, Juliana Cambeiro, Maria Eduarda Balieiro, Maria Eduarda Cohen, Mariana Normando e Nathyele Dias.
No campo internacional, destaca-se o conjunto de painéis com as “cidades-esponja”, de autoria do arquiteto chinês Kongjian Yu (falecido no pantanal, em setembro deste ano, e que será o tema atividade de encerramento da Bienal, com uma homenagem à vida e à obra do profissional); o ganhador do Prêmio Pritzker Liu Jiakun; e o arquiteto japonês Shigeru Ban, que apresenta a Casa de Troncos de Papel aos visitantes.
Em síntese, a exposição funciona como “um espaço de encontro entre diferentes visões e práticas, das mais experimentais às mais consolidadas, reunindo perspectivas de vanguardas científicas, saberes tradicionais, experiências populares, propostas de mercado e ações do Estado”, segundo explicam os organizadores no convite.
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