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Benjamin Constant - Discentes indígenas do Instituto de Natureza e Cultura (INC) participam no Congresso Nacional de Botânica (CNBot), no Piauí

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Doze acadêmicos indígenas do Instituto de Natureza e Cultura da Universidade Federal do Amazonas (INC/Ufam), em Benjamin Constant (AM), dos cursos de Ciências: Biologia e Química e Ciências Agrárias e do Ambiente participaram do Congresso Nacional de Botânica (CNBot). O evento aconteceu na cidade de Parnaíba, no Piauí, entre os dias 11 e 16 de agosto.     

De acordo com a professora Márcia Nascimento Pinto, orientadora dos trabalhos, as pesquisas apresentadas que unem o conhecimento científico formal com a sabedoria ancestral de seus povos. “Eu os vi, com brilho nos olhos, apresentando trabalhos de etnobotânica, morfologia e ecologia vegetal, que eram muito mais do que projetos científicos. Eram partes de sua história, de suas famílias e de sua relação íntima com a floresta. Cada apresentação, seja sobre o potencial medicinal de plantas amazônicas, a soberania alimentar da mandioca ou o uso de Histórias em Quadrinhos para o ensino, era um testemunho da riqueza de seus saberes”, destacou a docente.

A professora falou ainda que o tema do CNBot, 'Botânica: Conectando Ensino, Pesquisa e Tecnologias de Uso Sustentável', não poderia ter sido mais adequado para as pesquisas deles. “Meus alunos não estão apenas aprendendo botânica; eles estão vivendo e respirando-a. Eles levaram para o Congresso uma perspectiva única, mostrando que o futuro da ciência botânica depende de uma parceria respeitosa com os povos que sempre estiveram lá, cuidando e compreendendo a floresta. Além disso, conhecer o mar para eles foi uma experiência incrível, o Delta do Parnaíba, o único delta em mar aberto das Américas, ofereceu aos participantes um laboratório natural único. Além de participar das sessões científicas, os acadêmicos puderam vivenciar a rica biodiversidade local, unindo a teoria das salas de aula e das pesquisas com a prática da observação direta dos ecossistemas nordestinos”, explicou.

Para a discente Neuza Anabel Carvalho Florez, em língua tikuna Poēüna rü Boatana, finalista do curso de Licenciatura plena em Ciências: Biologia e Química, e uma das autora do trabalho intitulado “Contribuições da Manihot esculenta Crantz na cultura da etnia Tikuna para a conquista da soberania alimentar”, o estudo aborda a importância da mandioca para o povo Tikuna, destacando tanto o valor cultural quanto a relevância alimentar dessa planta, que é base da dieta tradicional e fundamental para a segurança alimentar da comunidade. 

“Buscamos mostrar como o conhecimento tradicional associado a esse cultivo fortalece a identidade cultural e contribui para a sustentabilidade alimentar das populações indígenas. Participar de um congresso nacional de grande porte, como o de Botânica, foi uma experiência extremamente enriquecedora, pois nos possibilita trocar conhecimentos com pesquisadores de diferentes regiões do Brasil, além de dar visibilidade às pesquisas desenvolvidas no contexto amazônico e indígena. Esses espaços são fundamentais para fortalecer a ciência, valorizar os saberes tradicionais e mostrar a importância das contribuições dos povos indígenas na construção do conhecimento científico. Além disso, é uma oportunidade de crescimento acadêmico e pessoal, que motiva a continuar na caminhada da pesquisa”, contou a discente.

Pesquisas Apresentadas

Os trabalhos foram divididos em categorias que refletem a diversidade e a relevância das pesquisas indígenas.

1. Etnobotânica: O Conhecimento Ancestral em Foco  - Essa foi a categoria com maior número de trabalho, evidenciando a riqueza do saber indígena sobre as plantas. Os estudos abordaram a utilização de plantas para fins medicinais, alimentares e culturais.

Farmácia Natural e Saúde: Pesquisas como "Farmacia Natural: Diversidade de Plantas medicinais nas residências do município de Benjamin Constant, AM" e "Levantamento de plantas medicinais utilizadas para tratamento de dermatite fúngica em São Paulo de Olivença, AM" mostram como o uso de plantas é vital para a saúde de suas comunidades. O estudo sobre os benefícios da Siparuna guianensis para o controle do colesterol, assim como o potencial terapêutico da Plinia inflata, reforçam essa conexão.

Cultura e Alimentação: A importância da alimentação tradicional e da soberania alimentar foi um tema recorrente. Os trabalhos sobre a "A importância da Mandioca (Manhiot esculenta Crantz) na soberania alimentar da Etnia Ticuna", o uso de Plantas Alimentares Não Convencionais (PANCs) como o "Chocolate alternativo de Inga edulis", e o estudo sobre os "Sabores da Amazônia" destacaram a riqueza da culinária e da cultura indígena.

Economia e Tradição: O valor econômico das plantas também foi explorado. Pesquisas sobre o "O Potencial bioeconômico da Jarina" e a "Extração de óleo de Andiroba" mostram como as práticas tradicionais podem gerar renda de forma sustentável, unindo conhecimento tradicional e economia.

2. Ecologia e Morfologia Vegetal: A Ciência da Floresta - Os trabalhos de campo revelaram uma dedicação à ciência fundamental. O "Levantamento de frutos secos em Floresta de Terra Firme" e o estudo da "Diversidade de Melastomataceae em Floresta de Terra Firme" mostram a importância de catalogar e entender a biodiversidade para a sua conservação. A pesquisa sobre a dinâmica de dispersão da Erythrina fusca também contribuiu com dados ecológicos essenciais para a compreensão do ecossistema de várzea.

3. Educação e Meio Ambiente: O Futuro da Botânica - Uma pesquisa se destacou por sua abordagem inovadora no ensino: "O ensino de botânica através de Histórias em quadrinhos (HQ) em uma escola no interior do Amazonas". Este trabalho exemplifica a criatividade e a capacidade dos acadêmicos em conectar o conhecimento científico a metodologias educativas acessíveis, garantindo que o saber sobre as plantas continue a ser transmitido de geração em geração.

Segundo a professora Márcia Nascimento Pinto a jornada desses acadêmicos foi uma demonstração poderosa de que a ciência, a cultura e a natureza estão profundamente interligadas. “Eles não apenas apresentaram dados científicos, mas também trouxeram a perspectiva única de povos que vivem em harmonia com a floresta, enriquecendo o debate no congresso e mostrando a importância de sua voz na construção de um futuro mais sustentável para todos”, finalizou a professora.

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