Curso de Licenciatura em Ciências Sociais recebe Encontro de Saberes
No primeiro semestre de 2025 ocorreu a primeira oferta da disciplina obrigatória Encontro de Saberes, vinculada ao curso de Licenciatura em Ciências Sociais, ministrada pelas professoras Luiza Dias Flores e Mariana Galuch. Com o tema “Artesanias Afro-amazônicas”, trata-se de uma iniciativa inovadora na promoção de diálogos contínuos e sistemáticos entre conhecimentos acadêmicos e saberes de povos e comunidades tradicionais e populares.
De acordo com a professora Luiza Dias Flores a oferta extrapola o campo disciplinar, constituindo um projeto político-pedagógico de inclusão epistêmica nas Universidades brasileiras. Além disso, a disciplina contribui para o desdobramento da luta por políticas de inclusão e de ações afirmativas, principalmente para negros e indígenas, e fomenta a reflexão e a ação político-pedagógica, cada vez mais urgente nas Universidades brasileiras, sobre o reconhecimento formal dos conhecimentos e habilidades das mestras e dos mestres de saberes tradicionais e populares.
“Procura-se abrir a Universidade a experiências de ensino e de pesquisa pluriepistêmicas, convidando e concedendo espaço de docência às/aos mestras/es e saberes negros, indígenas, de comunidades tradicionais e de culturas populares. O Encontro de Saberes baseia-se em uma perspectiva pedagógica que integra o sentir, pensar e o fazer, oferecendo às/aos estudantes outras modalidades de conhecimento que enfatizam o protagonismo de coletividades cujos conhecimentos são historicamente invisibilizados.”, destacou a docente.
A professora explicou também que a disciplina “Artesanias Afro-amazônicas” contou com a participação dos mestres: Mestre Gato de Silvestre, um dos fundadores da capoeira no Amazonas; Mestre Marinho Saúba, sambista, compositor e mestre de bateria da Escola de Samba Vitória Régia; e Mestra Maria Amélia, articuladora e liderança do quilombo do Andirá.
“Os estudantes matriculados ouviram atentos sobre as trajetórias dos mestres, seus conhecimentos sobre a capoeira, o samba e a vida quilombola, e foram convidados pelos mestres a partilhar um saber prático e vivido, por meio dos movimentos da capoeira e da vivência com o Grupo de Capoeira Arte e Revelação, que desenvolve seus trabalhos sociais no Bairro Compensa; por intermédio da musicalidade do samba e da vivência na Escola de Samba Reino Unido da Liberdade, no bairro Liberdade; e, por fim, dos aprendizados com o fuxico e com a confecção de vassouras , artesanias das mulheres quilombolas do Território do Andirá, além da vivência com Mestra Maria Amélia na construção da horta quilombola “Território Andirá” realizada no setor norte da Ufam”, explicou.
Pioneirismo
“Destacamos o pioneirismo do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Ufam em propor o Encontro de Saberes como disciplina obrigatória do curso, contribuindo para o fortalecimento das políticas de inclusão e ações afirmativas no contexto amazônico, e para formas de curricularização da extensão em nossas estruturas curriculares, contribuindo sobremaneira para a implementação das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que tornam obrigatória a inclusão das temáticas indígenas e afro-brasileiras nas escolas, levando em conta que as Universidades têm um papel fundamental para a qualificação e aplicação destas leis, sobretudo nos cursos de Licenciatura”, enfatizou.
No Brasil, o movimento Encontro de Saberes existe em outras universidades, em 16 universidades segundo o INCT-Inclusão, e iniciou na UnB; na região Norte, o projeto Encontro de Saberes é desenvolvido pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e pela Universidade Federal do Pará (UFPA). O projeto considera que mais do que a legitimação dos saberes dos povos não-ocidentais pelos saberes científicos ocidentais, o que está em jogo com a inclusão de Mestres e Mestras em nossas salas de aula e com a participação de estudantes e professores em distintos territórios comunitários, é a transformação das nossas próprias práticas e paradigmas acadêmicas que sejam capazes de enfrentar as desigualdades sociais e epistêmicas em que vivemos. A execução da disciplina contou com o financiamento do projeto “Encontro de Saberes: pesquisa, inovação metodológica e práticas outras de conhecimento” (Programa Universal/Fapeam 20 anos).
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