V Copene Norte reúne pesquisadores e movimentos sociais para fortalecer a luta antirracista na Amazônia
Na última segunda-feira, dia 01 de setembro, teve início o V Congresso de Pesquisadores Negros do Norte (Copene Norte), com o tema "Afro-Amazônia em foco: epistemologias, contranarrativas e resistências". O evento busca fortalecer a luta contra todas as formas de violência e promover a equidade, ampliando os espaços para a produção de ciência engajada com a vida. Assim, o Congresso foi concebido para ser um espaço de diálogo, de valorização de trajetórias historicamente silenciadas e de celebração da produção científica, da resistência e da ancestralidade.
É a segunda vez que o Copene Norte é sediado em Manaus; a primeira vez foi em 2017. Organizado pela Associação Brasileira dos Pesquisadores Negros (ABPN), em parceria com a Universidade Federal do Amazons (Ufam) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam). De acordo com a professora Claudina Maximiano, coordenadora geral do evento, “Nós estamos aqui numa grande equipe, num grande puxirum (grupo de pessoas que se reúnem para realizar um trabalho cooperativo), com pesquisadores de toda região, das diversas instituições. Vamos aquilombar a Ufam e dar visibilidade para a atuação e a pesquisa dos pesquisadores negros e negras da região”, comenta.
De acordo com a professora da Ufam e uma das coordenadoras do evento, Iolete Ribeiro, o congresso é um esforço conjunto de pesquisadores de diversas instituições de ensino superior e da educação básica, além de movimentos sociais. “É necessário incorporar a temática da negritude nas discussões acadêmicas e debater a permanência de estudantes negros, indígenas e quilombolas, que têm aumentado na Ufam devido às políticas afirmativas”, afirma.
Abertura
A organização do Copene Norte adotou uma abordagem contracolonial, que se refletiu até mesmo na cerimônia de abertura, em que a tradicional composição de mesa foi substituída pela menção direta às autoridades presentes, inclusive o vice-reitor da Ufam, Geone Correa. A mesa de honra, em vez de seguir o formato padrão, foi decorada com tecidos africanos, fazendo uma referência direta à ancestralidade.
A celebração da cultura e da ancestralidade também foi refletida nas apresentações artísticas na cerimônia de abertura, como a dança "Onça Pega" de estudantes da Escola Quilombola Santa Tereza, a bênção de mães de santo e a apresentação do grupo de Maracatu Nação Geap. O público também assistiu ao curta-metragem "Cultura e Resistência Negra no Baixo Amazonas", uma produção audiovisual que tem como protagonistas três mestras populares de Matupiri, o maior dos quilombos do Rio Andirá.
Ainda na cerimônia de abertura, no Auditório Eulálio Chaves, ocorreu a homenagem de Maria Amélia dos Santos Castro, uma líder quilombola do Quilombo do Rio Andirá, em Barreirinha, no Amazonas. Nascida em 13 de maio, a data simboliza a abolição da escravatura, mas foi ressignificada como um dia de memória e resistência para a população negra. A liderança de Maria Amélia foi fundamental para o reconhecimento de seu povo pela Fundação Cultural Palmares como remanescentes quilombolas.
Após a cerimônia de abertura do evento, ocorreu a palestra magna “Afro-amazônia em foco: epistemologias, contranarrativas e resistências”, ministrada pela Dra. Maria Páscoa Sarmento, diretora de Relações Internacionais da ABPN. Durante a palestra, Maria Páscoa apresentou dados geográficos que comprovam que as epistemologias negras ainda não fazem parte do cânone que formam a elite intelectual do país. Para enfrentar esse problema, de acordo com a pesquisadora, o Copene foi criado como lugar de resistência, e, de forma contracolonial, promover saberes e conhecimentos que a academia precisa reconhecer.
A programação, que se estende por quatro dias, conta com palestras, apresentação de trabalhos, contação de histórias, oficinas, palestras, mesas redondas e mini cursos. Confira AQUI
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