Projeto Vip Amazonia divulga desenvolvimento da pesquisa sobre montanhas na região e o supercontinente Columbia
Investigar como se formaram as cadeias de montanhas na Amazônia há cerca de 2 bilhões de anos e qual a relação dessas com outros continentes formando o supercontinente Columbia é o objetivo do VIP Amazonia (Vital Insight Into Precambrian Amazonia), projeto de pesquisa financiado pelo Instituto Serrapilheira, envolvendo pesquisadores e estudantes da Ufam.
Coordenado pela professora do Departamento de Geociências do Instituto de Ciências Exatas (ICE), Mayara Teixeira, o VIP Amazonia surgiu a partir do projeto de pesquisa intitulado “How were mountain ranges formed in Amazonia 2 billion years ago, and how were they related to a single large landmass? (Do inglês, tradução livre: Como as cadeias de montanhas foram formadas na Amazônia há 2 bilhões de anos e como elas se relacionavam com uma única grande massa de terra?)”. A equipe do projeto é formada por pesquisadores do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geociências (PPGGEO) da Ufam (Professores Raphael Di Carlo, Pamela Pavanetto, Rielva Solimairy, Michele Andriolli e Tiago Maia), além de discentes da graduação e da pós-graduação. Como colaboradores de outras instituições brasileiras, participam pesquisadores da Unicamp, da Unesp, da UFRJ e do Serviço Geológico do Brasil (Manaus). Também existem os parceiros internacionais com pesquisadores da França, Austrália, Colômbia e, mais recentemente, da Argentina, por meio de um acordo de cooperação técnica com a Universidade Nacional de Córdoba (UNC).
“O projeto iniciou em agosto do ano passado. Nós estamos coletando dados iniciais ainda, fizemos muitos trabalhos de campo, inclusive no Pico da Neblina, a montanha mais alta do Brasil. E agora eu vim para a Argentina porque nós temos um acordo de cooperação técnica com a Universidade Nacional de Córdoba. Temos parceiros, pesquisadores, colaboradores dentro do projeto. E eu vim preparar algumas amostras que serão enviadas para a datação geocronológica para determinar a idade das rochas que estamos estudando. Então aqui na Argentina eu estou preparando amostras e estou fazendo imagens de cristais que são utilizados para datar rochas”, expôs a docente.
De acordo com a pesquisadora, o Alto Rio Negro e o sudeste do Amazonas podem ter compartilhado a mesma história geológica no passado, talvez tenham feito parte de um mesmo bloco de rochas há bilhões de anos, ou talvez tenham origens diferentes. “É justamente isso que estamos investigando. Já Roraima apresenta rochas mais antigas e com uma evolução geológica distinta. Mas essas áreas foramselecionadas porque têm possivelmente correlação com rochas (mesma idade e processo de formação assinatura) que ocorrem na Suécia, por exemplo”, explicou a professora Mayara Teixeira.
O supercontinente Columbia
Um supercontinente é um enorme bloco que reúne a maior parte das áreas continentais da Terra (pelo menos 75% da massa terrestre). “Isso já aconteceu várias vezes na história do planeta: os continentes se juntam formando uma grande massa, e depois se fragmentam novamente. O mais conhecido e mais recente é o Pangea (400 a 100 milhões de anos), mas antes desse tiveram outros supercontinentes. O que estamos estudando, é possivelmente o mais antigo da história da Terra”, esclarece a pesquisadora.
Ainda segundo a coordenadora, estudos anteriores indicam que, há cerca de 2 bilhões de anos, parte da Amazônia estava unida a outras regiões do planeta, como a atual Europa Oriental, formando um supercontinente conhecido como Columbia. Segundo um modelo chamado Samba (South America–Baltica), o norte da Amazônia esteve ligado à Baltica por quase 1 bilhão de anos. Ela detalha:
“Entender esse passado ajuda a responder questões importantes:
Tectônica de placas: saber como os continentes se moviam e colidiam no passado nos ajuda a entender como funcionava a dinâmica da Terra naquela época.
Clima e vida: o movimento dos continentes influencia o clima global e a disponibilidade de elementos essenciais para a vida, como carbono e fósforo. Quando um supercontinente se aglutina ou se fragmenta, há impactos diretos no ambiente e na evolução dos organismos.
Recursos minerais: a formação e fragmentação de supercontinentes também influenciam onde os minerais ficam concentrados na crosta terrestre.
Essas descobertas não só revelam a história geológica da Amazônia, como também ajudam a prever padrões geológicos que podem ser úteis em pesquisas sobre clima, vida e recursos naturais no futuro.”
Instituto Serrapilheira
É uma instituição privada, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil. Foi criado para valorizar o conhecimento científico e aumentar sua visibilidade, ajudando a construir uma sociedade cientificamente informada e que considera as evidências científicas nas tomadas de decisões. O instituto tem três programas: Ciência, Formação em Ecologia Quantitativa e Jornalismo & Mídia. Desde o início de suas atividades, o Serrapilheira já apoiou financeiramente mais de 300 projetos de ciência e de comunicação da ciência, com mais de R$100 milhões investidos.
Divulgação científica
Aproximar o conhecimento científico da sociedade além de ser um dos objetivos do Instituto Serrapilheira é também um compromisso da professora Mayara Teixeira, que sempre que pode, procura apresentar suas pesquisas nos diversos meios de comunicação. “Acredito que nós, pesquisadores, temos o dever de mostrar à sociedade o que estamos fazendo. Por isso, o VIP Amazônia também tem forte presença na mídia. Já participei de entrevistas, como a concedida ao biólogo Átila Lamarino, no podcast Não Ficção, onde falei sobre montanhas do Brasil, e escrevi para o blog Ciência Fundamental da Folha de São Paulo, onde contei sobre a experiência da expedição ao Pico da Neblina, o ponto mais alto do Brasil”, declarou.
Ficou curioso e deseja saber mais sobre a pesquisa do Vip Amazonia? Você pode obter mais informações no perfil do projeto no Instagram, @vipamazonia. Lá, são compartilhadas curiosidades geológicas, mostrando o trabalho dos pesquisadores em campo e nos laboratórios, revelando desde os bastidores das expedições até as etapas de análises e interpretações científicas. “Também contamos sobre todos os avanços do projeto, novas descobertas, parcerias, eventos e publicações. Convidamos aqueles que têm curiosidade e interesse, a nos seguir e acompanhar nosso trabalho”, convida a coordenadora.
Ilustração: Johansson (2009).
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