Projeto Cidadania Digital (Icsez/Ufam) promove oficinas em comunidades dos rios Andirá e Uaicurapá (AM)
Atividades foram ministradas por professores convidados de diversas instituições do país, com o apoio de docentes e alunos da UFAM-Parintins
Por: Sebastião Nascimento – Bolsista de Apoio Técnico Fapeam
Moradores do Quilombo Santa Tereza do Matupiri e da Comunidade Nova Alegria (Terra Indígena Andirá-Marau) receberam, entre os dias 23 e 25 de agosto, atividades do projeto de pesquisa e extensão Cidadania Digital (ICSEZ/UFAM). A visita envolveu a promoção de oficinas de Etnoterritorialidades, Narrativas Autônomas e Tecnologia Social da Memória, como parte da etapa de campo do projeto, além da exposição fotográfica Cidadania Digital I - Povos Quilombolas.
As oficinas foram conduzidas pelos pesquisadores Eliete Pereira (MAE/USP), Evandro Laia (UFOP), Taynnara Franco (UFG) e Thiago Franco (UFG), com o apoio de Marina Magalhães (ICSEZ/UFAM), coordenadora do projeto, Hellen Picanço Simas, coordenadora do curso de Comunicação Social/Jornalismo (ICSEZ/UFAM) e de Sebastião Nascimento (bolsista de Apoio Técnico FAPEAM). A exposição fotográfica, fruto de trabalho de campo realizado no último mês de maio na comunidade do Matupiri, teve curadoria do Prof. Marcelo Rodrigo (UFPB) e Sebastião Nascimento. As atividades culturais foram desenvolvidas naquele território pelo Instituto Cultural Ajuri, parceiro do projeto, liderado por Marcos Moura.
A etapa de campo contou também com a presença de egressos e estudantes do curso de Comunicação Social/Jornalismo do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM): Ana Beatriz Melo, Soraia Castro, Ralf Cordeiro, Jailson Amazonas, Renner Gomes e Yandrei Farias. “É nosso objetivo fomentar a formação de novos pesquisadores no Amazonas. Logo, a aproximação desses estudantes e egressos com a comunidade e com pesquisadores de outras instituições, por meio de um processo de produção compartilhada de conhecimento, tem muita relevância para a formação de cada um. Muitos foram a campo pela primeira vez”, avalia a coordenadora do Cidadania Digital, Marina Magalhães.
Além da aproximação com as comunidades locais, as atividades desenvolvidas fortalecem a parceria do projeto com pesquisadores de diferentes universidades do país, como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e o Centro Internacional de Pesquisa ATOPOS (CNPq/USP).
“A experiência de fazer esse intercâmbio proporciona uma troca de saberes e novos aprendizados para todos. Foi um momento importante também de registrarmos o contexto de conexão dessas comunidades, das suas redes cosmológicas às redes digitais. Pudemos, assim, fazer um levantamento do uso da internet e do nível de conectividade dos seus territórios. Além de compartilhar metodologias de registro de suas memórias para que eles possam construir suas narrativas históricas”, afirma Eliete Pereira, pós-doutoranda do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP), bolsista do Pós-Doc Sênior CNPq e pesquisadora do ATOPOS.
Segundo Taynnara Franco, os saberes dessas comunidades devem continuar vivos nos territórios. “Os conhecimentos científicos não devem se sobrepor aos saberes tradicionais indígenas e quilombolas, mas devem ser trabalhados de forma transdisciplinar, no contexto escolar”, afirma a pesquisadora. “As ações nas comunidades são resultados de esforços para partilhar saberes historicamente negligenciados. A conexão desses saberes caminha para a promoção da cidadania, para a visibilidade de outras narrativas que o ocidente não alcança”, acrescenta Thiago Franco.
Evandro Laia explica que as oficinas compõem um trabalho mais amplo de pesquisa e extensão. “Atuamos no fomento da autonomia para produção de narrativas sobre as comunidades, aprendendo coletivamente, e ao mesmo tempo produzindo diagnóstico das condições de conexão com a internet em comunidades do Baixo Amazonas, um passo fundamental para futuras incursões do projeto Cidadania Digital”.
Programação
No dia 23 de agosto, os pesquisadores do Projeto Cidadania Digital visitaram a comunidade quilombola de Santa Tereza do Matupiri (Barreirinha-AM), onde foram ministradas oficinas com moradores das cinco comunidades quilombolas da região do rio Andirá, integrantes da Federação das Organizações Quilombolas do Município de Barreirinha (FOQMB). Na ocasião, o Instituto Cultural Ajuri, parceiro do projeto, também promoveu as oficinas de músicas e danças afroamazônicas junto à comunidade.
Visita a comunidade quilombola de Santa Tereza do Matupiri (Barreirinha-AM)
A equipe formada por cerca de 25 tripulantes, entre professores, alunos e ativistas culturais, partiu de barco da orla da União (Parintins-AM) por volta da 1h da madrugada. A comitiva amanheceu na comunidade, onde foi recebida pelos líderes quilombolas João Xisto, presidente da FOQMB, e Maria Amélia Castro, vice-presidente da Federação. O turno da manhã foi destinado às oficinas do projeto Cidadania Digital, enquanto no período da tarde os participantes se envolveram nas histórias e reflexões sobre a presença do povo quilombola na Amazônia, por meio das atividades artísticas conduzidas por Marcos Moura (Instituto Cultural Ajuri).
No dia 25 de agosto, uma comitiva de seis pesquisadores levou as oficinas do projeto Cidadania Digital à comunidade Nova Alegria (terra indígena Andirá-Marau). Durante o turno da manhã, as oficinas foram ministradas para alunos e professores indígenas da região. Na ocasião, a professora e pesquisadora Hellen Picanço também retornou para a comunidade com o documentário que foi realizado em uma pesquisa anterior.
Oficinas do projeto Cidadania Digital à comunidade Nova Alegria (terra indígena Andirá-Marau)
Sobre o Projeto
O projeto Cidadania Digital tem como objetivo geral analisar as relações comunicacionais de povos, comunidades e/ou grupos em situação de minoria, vulnerabilidade social, a partir da perspectiva do digital, nomeadamente do net-ativismo e da cidadania. A proposta também visa produzir mecanismos de acesso à informação, espaço de voz e registro da memória das comunidades tradicionais, a fim de promover a cidadania digital no âmbito dos povos ribeirinhos do estado do Amazonas
Este projeto tem como instituição executora a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), no âmbito do Grupo de Pesquisa Visualidades Amazônicas (VIA/CNPq), e resulta de uma parceria com o Centro Internacional de Pesquisa ATOPOS (USP), a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), entre outras instituições parceiras. A pesquisa é financiada pelo Programa Humanitas – Edital n. 05/2022 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
Redes Sociais