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Com recomendação de publicação da tese na íntegra, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social tem o primeiro doutor indígena

Publicado: Sexta, 05 de Fevereiro de 2021, 08h48 | Última atualização em Sexta, 05 de Fevereiro de 2021, 11h41 | Acessos: 3244

Por Irina Coelho
Equipe Ascom Ufam
 

O discente João Paulo Lima Barreto, indígena da etnia Yepamahsã (Tukano), na tarde da última quinta-feira, 4 de fevereiro, via videoconferência, defendeu sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia  da Universidade Federal do Amazonas (PPGAS/Ufam). A banca, formada pelos professores da Ufam, Gilton Mendes dos Santos (orientador), Carlos Machado Dias Júnior e Deise Lucy Oliveira Montardo; pelo o professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), docente Geraldo Luciano Andrello, e a professora da Universidad Nacional Mayor San Marcos (Lima/Peru), Luisa Elvira Belaunde, apontou a contribuição do estudo para a Antropologia brasileira e recomendou a publicação do trabalho na íntegra.

A tese, intitulada ‘Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma “teoria” sobre o corpo e o conhecimento-prático dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro’, explora a noção de corpo do ponto de vista dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro, comumente conhecidos como “pajés”. As bases da investigação são os bahsese, o discurso e as experiências dos especialistas na intervenção sobre o corpo. 

De acordo com o recém-doutor, João Paulo Lima Barreto, o corpo é o ponto de partida para refletir sobre o pensamento e a filosofia rionegrina. “O corpo é constituído de substâncias vegetais e minerais (terra, água), de fenômenos (ar, calor) e de qualidades de animais. A pessoa é sujeito de ataques de seres waimahsã, dos animais, dos alimentos, dos fenômenos naturais e das substâncias constitutivas que podem resultar no desequilíbrio do corpo. Prevenir contra os ataques, qualificar e equalizar as substâncias do corpo através de produção de cuidados via bahsese e uso de plantas medicinais é a garantia de qualidade da vida”, explicou.

O discente falou ainda que na filosofia rionegrina, o corpo humano é dinâmico, algo que está sempre em transformação. “Essa transformação pode se dar pela qualificação via bahsese, pelo uso de sutiro e pelo devir pós-morte. De igual modo, os animais e vegetais são dinâmicos, se transformam e multiplicam. Dessa maneira, o corpo e as coisas do mundo não são algo fixo, mas estão em constante transformação”, enfatizou.

De acordo com o orientador, professor Gilton Mendes, a tese contribui com a própria (re)construção do conhecimento antropológico. “Esse momento da defesa de doutorado representa uma possibilidade indígena no PPGAS real e concreta. Hoje, nós temos quase 40 alunos indígenas no Programa e estamos vendo a possibilidade de um impacto de produção acadêmica na Antropologia. A defesa de João Paulo representa, de fato, não só uma conquista, mas também um presente para a Antropologia brasileira. A tese traz uma inovação, que foi comentada pela banca, oxigena a área e é, sem dúvidas, algo inédito e valioso. Esse momento é de serena e grande alegria, considerando um momento tão difícil que estamos vivendo, em que os povos indígenas, em particular, estão sendo atacados não só pelo vírus, mas pelo descaso político do estado”, finalizou.    

Mais informações sobre a trajetória do pesquisador João Paulo Lima Barreto:

Primeiro indígena a defender doutorado em Antropologia Social na Ufam, João Paulo Barreto, tem banca marcada para dia 4 de fevereiro

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