Ufam faz homenagem póstuma aos pós-graduandos vítimas de covid 19
Um dos efeitos mais devastadores da pandemia é o luto coletivo. Com mais de 500 mil mortes, o Brasil, aos poucos, vai aprendendo a lidar com tantas perdas. Pensando nisso, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) realizou a entrega, aos familiares, dos diplomas dos pós-graduandos Nildo da Silva Pereira, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Design (PPGD) e Ely Ribeiro de Souza, aluno indígena conhecido como Ely Macuxi, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS), vítimas de covid-19. A iniciativa reconhece as pesquisas executadas e a dedicação dos dois alunos à Instituição.
A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, professora Selma Baçal, ao falar do momento das homenagens in memorian, lembrou da contribuição científica dos discentes. “Os Programas de Pós-Graduação em Antropologia Social e Design entregaram os diplomas aos familiares em virtude dos trabalhos terem sido concluídos. Nós ficamos felizes em poder homenagear esses pesquisadores e também agraciar as famílias com o reconhecimento público do trabalho realizado. Também, claro, lamentamos que a vida dos nossos alunos tenha sido ceifada neste momento que o mundo atravessa”, enfatizou a pró-reitora.
Homenagens
Nildo da Silva Pereira, egresso do PPGD, defendeu a dissertação intitulada ‘Serigrafia aplicada em projetos sustentáveis de Design Social’, orientada pela professora Magnólia Grangeiro Quirino, em dezembro de 2020 e veio a óbito em março de 2021. Além de aluno da Ufam, Nildo Pereira era também servidor da Ufam, vinculado ao Laboratório de Serigrafia da Faculdade de Tecnologia (FT/Ufam). De acordo com o coordenador do PPGD, professor Nelson Kuwahara, o discente e colega de trabalho obteve êxito em concluir o mestrado em Design em meio a pandemia.
“Em face do sucesso no desenvolvimento de seu trabalho de dissertação no PPGD, além da dedicação aos serviços no Departamento de Design e Expressão Gráfica - DEG/Ufam, tanto o colegiado do PPGD quanto do DEG sentiram-se na obrigação de prestar homenagem ao Nildo da Silva Pereira, realizando entrega do diploma para sua família, representada pela esposa, filha, genro e neto. Ele foi um servidor exemplar no nosso Departamento e ainda foi um membro central para o programa de extensão Coroado, contribuiu muito na capacitação da comunidade no campo de serigrafia para alternativa de geração de emprego e renda”, destacou.
O coordenador falou também das relações estabelecidas por Nildo da Silva Pereira, responsável pelo Laboratório de Serigrafia, com a comunidade acadêmica. “Ao longo de sua vida na Ufam, o Laboratório sempre foi um dos mais acolhedores aos alunos de graduação. Em tal ambiente, os alunos utilizam espaço para atividade das disciplinas ligadas à serigrafia, bem como Nildo da Silva Pereira viabilizava ambiente favorável para os discentes estudarem. Assim, o espaço do laboratório representava o ambiente de acolhimento e integração de boa parte dos discentes do curso de Design da Ufam”, relembrou.
No Programa de Pós- Graduação em Antropologia (PPGAS), a perda foi do discente indigena Ely Ribeiro de Souza, conhecido como Ely Macuxi. O aluno faleceu, às vésperas de defender sua dissertação, dia 21 de janeiro de 2021, intitulada "Relações Interétnicas em Contexto Urbano: Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno - COPIME" e orientada pelo professor Raimundo Nonato Pereira da Silva. Além da entrega do certificado (ata) para os familiares, houve uma defesa póstuma, aprovada pelo colegiado do PPGAS/Ufam, em fevereiro.
Segundo o coordenador do Programa na época da defesa, professor Carlos Machado Dias Júnior, a homenagem é extremamente significativa, lembrando que os discentes indígenas da Ufam são destaques tanto em número quanto em pesquisas qualificadas. “Os alunos indígenas que pertencem ao Programa têm se destacado, enormemente, na realização de pesquisas. O PPGAS é pioneiro com relação à presença de povos indígenas na Pós-Graduação em Antropologia no Brasil. Aqui, nós temos o maior número de pós-graduandos, considerando o país inteiro, e são alunos altamente produtivos e com produção muito qualificada. No caso do discente Ely Macuxi, o trabalho dele é extremamente importante para o campo. Houve a composição da banca com os professores Antônio Carlos de Souza Lima (PPGAS/Museu Nacional/UFRJ) e João Pacheco de Oliveira Filho (PPGAS/Museu Nacional/UFRJ/Ufam), referências nacionais, e a leitura que ambos fizeram do trabalho foi fenomenal, inclusive, com indicação para publicação. O esforço e o empenho de Ely Macuxi para abordar a educação escolar indigena em Manaus revela, ainda, a importância do tema”, enfatizou.
Para a atual coordenadora do PPGAS, professora Flávia Melo, as homenagens póstumas cumprem papéis significativos no luto coletivo. “Um deles é marcar um rito de luto, memória e celebração desta passagem. É um momento importante, que tem sido negligenciado, e necessário, desde o início da pandemia, para a vivência do luto coletivo. Academicamente, as defesas garantem a conclusão de um processo abruptamente interrompido e que, como nós sabemos hoje, um processo que poderia ser bem concluído no curso ordinário de uma vida que foi interrompida mesmo havendo conhecimento científico suficiente para a prevenção do vírus. É um momento de reconhecimento de uma trajetória acadêmica exitosa e interrompida. O PPGAS, ao tempo que lamenta a perda de todos da comunidade acadêmica, não apenas os nossos discentes, também confirma o seu compromisso com a Amazônia, os povos que constroem este território e com a vida desses povos”, finalizou.
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