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Professor da Ufam, Fábio Godoi integra 43ª Operação Antártica, missão científica que investiga biodiversidade ainda pouco conhecida

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Vinculado ao Departamento de Biologia do ICB, o docente investigou insetos presentes em musgos daquela região durante o chamado verão antártico, entre os meses de outubro e março

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Ainda tangencial entre os temas investigados pela comunidade científica mundial, os insetos que vivem na Antártica, sobretudo aqueles associados aos tapetes de musgos, podem ajudar os cientistas a compreender a biodiversidade antártica e trazer contribuições nas áreas de biogeografia e adaptação a ambientes extremos. De outubro de 2024 a março de 2025, durante o chamado “verão antártico”, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) manteve uma expedição científica naquela região. A 43ª Operação Antártica foi integrada por pesquisadores de todo o País, inclusive o docente do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas (ICB/Ufam) Fábio Godoi.

Graduado em Biologia pela Universidade de Brasília (UnB), mestre em Entomologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e docente da Ufam desde 2009, o professor Godoi atualmente cursa doutorado em Zoologia na UnB. Na Antártica pela primeira vez, ele explica sobre a participação na equipe para pesquisar insetos e musgos na porção mais extrema do planeta: “Minha experiência é concentrada em taxonomia e sistemática de insetos, especialmente os dípteros – popularmente conhecidos como moscas e mosquitos. Esse foco acabou me aproximando de projetos voltados à compreensão da biodiversidade em ambientes pouco estudados, incluindo as comunidades de microartrópodes associadas aos musgos antárticos”.

O objeto da pesquisa conduzida pelo professor é exatamente um dos eixos atuais do Projeto Bryoantar, uma equipe multidisciplinar liderada pelos pesquisadores da UnB Paulo Eduardo Aguiar Saraiva e Micheline Carvalho Silva. O Bryoantar faz parte de um esforço estatal maior, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), criado em 1982 e hoje sob a coordenação no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com a Marinha do Brasil. O Programa promove pesquisas científicas no continente antártico para fortalecer a posição brasileira no Sistema do Tratado da Antártica, o que contribui para conhecimento sobre mudanças climáticas, biodiversidade e sustentabilidade global.

Anualmente, o Proantar realiza a Operação Antártica, acumulando hoje mais de 40 expedições ao continente gelado. Entre os anos 2024 e 2025, na janela temporal do verão antártico (de outubro a março), a equipe multidisciplinar permaneceu na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), quando foram desenvolvidas investigações nas áreas de biologia, oceanografia, geologia, paleontologia, meteorologia, química ambiental, entre outras. A seleção dos investigadores que estiveram na Antártica nesse período foi regida pelo edital n. 08/2023 do CNPq. Ao todo, a Coordenação apoiou 29 projetos e viabilizou a atuação de 171 cientistas do Brasil.

O professor Fábio Godoi esteve na Antártica em três momentos dessa Operação. “Trabalhei na Estação entre 31 de outubro e 22 de dezembro de 2024, juntamente com o coordenador do Projeto, professor Paulo Câmara. [...] Retornei de 20 de fevereiro a 20 de março de 2025, agora embarcado no Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, realizando coletas nas ilhas Deception, Snow, Smith, Robert e Greenwich, acompanhado da mestranda Maria Clara Gil Laydner, do Programa de Pós-Graduação em Botânica da UnB”, enumerou o docente da Ufam, ao citar a participação in loco nas fases de número 2, 3 e 6 da 43ª Operação Antártica.

Ao levar o nome da Universidade para compor um Programa Científico nessa escala, o professor Godoi orgulha-se: “[...] é relevante para fortalecer a presença da Universidade em grandes programas científicos nacionais e ampliar a visibilidade da pesquisa na Instituição. O envolvimento em iniciativas como essa demonstra a capacidade da Ufam de atuar em temas estratégicos de relevância global, como mudanças climáticas, biodiversidade e ambientes extremos”. “Não tenho conhecimento de outro pesquisador daqui a participar de expedição do Proantar. Acredito que essa foi primeira a levar um dos nossos, o que torna a experiência ainda mais significativa para a Ufam”, completa.

Expertise no tema

“O convite surgiu a partir das pesquisas do professor Paulo Câmara, que trabalha há mais de dez anos com a flora antártica, especialmente musgos, além de também ter trabalhos envolvendo DNA ambiental de solo, ar, água e gelo. Em um estudo recente de DNA ambiental associado a musgos antárticos, os resultados revelaram uma diversidade extremamente ampla de organismos ligados a esses tapetes de musgos. Essa descoberta ampliou o escopo do projeto e motivou a formação de uma equipe especializada que fosse capaz de desvendar aspectos dessa fauna oculta”, explica o professor Fábio Godoi acerca da interface entre a pesquisa dele no doutorado e as atuais demandas do Programa estatal.

Diante das evidências científicas sobre uma biodiversidade pouco explorada foi que os especialistas em insetos Paulo Câmara e José Roberto Pujol Luz concretizaram a proposta do Bryoantar para concorrer ao edital do CNPq. Aprovado o Projeto, o professor José Pujol formou o grupo de especialistas na área, dentre os quais o doutorando Fábio Godoi. “[Era] uma equipe dedicada à fauna associada a musgos, e fui convidado para compor o grupo com responsabilidade direta de pesquisar os insetos, tanto associados aos musgos quanto os sinantrópicos, presentes no ambiente da estação [espécies que estão adaptadas a viver perto dos seres humanos]. Essa colaboração marcou meu ingresso nas atividades do Proantar”, descreve ele em relação às atividades pessoalmente exercidas no Projeto.

Ciência na bagagem

Os métodos adotados consideraram as diferenças climáticas e exigiram adaptabilidade dos cientistas brasileiros que estiveram na Estação militar mantida pelo País no continente antártico. Do ponto de vista investigativo, a preparação das equipes envolveu desde o estudo prévio da literatura sobre a microfauna local, passando pela revisão de protocolos de coleta nesse tipo de ambiente e pela logística de preservação de material biológico até os ajustes metodológicos aplicados na etapa de coleta em condições extremas, como é a realidade antártica.

“Pessoalmente, a adaptação ao clima, ao isolamento e à rotina da estação e dos navios exigiu planejamento de nossa parte. As baixas temperaturas, o clima severo e as mudanças de hábitos foram marcantes. O fator positivo é que a estrutura brasileira na Antártica é excepcional: a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) é atualmente a terceira mais moderna do continente, com instalações confortáveis e 17 laboratórios de ponta. Além disso, o Brasil conta com dois navios polares capazes de apoiar pesquisas em toda a Península Antártica. Essa infraestrutura robusta oferece excelentes condições de trabalho e segurança, facilitando muito a experiência no campo”, listou o docente.

De volta ao Brasil – depois de ter feito as coletas de amostras e os procedimentos de investigação conforme o Projeto contemplado, a equipe multidisciplinar do Bryoantar avaliou “a expectativa de poder coletar e analisar a fauna de microartrópodes presente nos musgos antárticos” como alcançada, conforme afirma o professor Godoi. Para ele, a contribuição desse trabalho está em “auxiliar na compreensão da biodiversidade antártica tanto quanto de questões futuras sobre biogeografia e adaptação a ambientes extremos”.

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