Turma de Licenciatura Intercultural do IEAA-Humaitá terá início em 2020 com a oferta de 60 vagas para indígenas de dez povos
Nos dias 30 e 31 de outubro de 2019, nas dependências do IEAA, será realizado o I Fórum para Implantação da Turma de Licenciatura Intercultural de Professores Indígenas do Sul do Amazonas, quando serão ouvidas as comunidades beneficiadas pela oferta
No último dia 7 de outubro, os professores do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA), em Humaitá, a coordenadora e a vice-coordenadora do curso de Formação de Professores Indígenas da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas (Faced/Ufam), professoras Jonise Nunes Santos e Michele Carneiro Serrão, reuniram-se para deliberar sobre a oferta de uma turma de licenciatura indígena visando a atender as comunidades de Humaitá e do entorno.
Conforme o cronograma que resultou das discussões no grupo, haverá 60 vagas nessa primeira turma, que deverá atender a dez povos localizados na Calha do Rio Madeira: Torá, Munduruku, Tenharim, Apurinã, Juma, Matanauri, Juahui, Parintintin, Pirahã e Mura. No Sul do estado, além de Humaitá, também serão servidos com a licenciatura indígenas dos municípios de Lábrea, Manicoré, Apuí, Novo Aripuanã, Canutama e Boca do Acre.
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais do IEAA-Ufam, o líder indígena Angélisson Tenharim recorda que a demanda surgiu no ano 2015. Na condição de articulador político do Movimento Indígena do Sul do Amazonas, o jovem levou o anseio ao conhecimento da Universidade Federal quando ainda era acadêmico da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). De fato, segundo esclareceu a professora Jonise Nunes, novas turmas dessa licenciatura intercultural só podem ser iniciadas em atenção a um pedido formulado pelos próprios indígenas de determinada localidade.
“Logo no início, enquanto estava como secretário geral da Organização dos Povos Indígenas do Alto-Madeira (Opiam), que representa dez povos, enquanto coordenador em exercício, eu me sentei com algumas lideranças e começamos pautar essa discussão. O que a gente observou naquele período? Que estávamos formando vários indígenas dentro das comunidades indígenas até o nível médio. Apesar de existirem as cotas, elas não conseguiam suprir a necessidade em termos de quantidade de alunos que estávamos formando. Então, seria preciso criar uma turma específica”, justificou Angélisson.
Ainda que a discussão tenha se iniciado em 2015, somente no ano 2017 é que foi possível levantar a demanda de alunos. Foram 78 jovens indígenas que haviam concluído o ensino médio, além dos professores formados pelo Projeto Piraquara, totalizando, à época, 115 pessoas aptas a ingressar na Universidade. “Hoje, são mais de 100 egressos da educação básica e mais 23 indígenas que estão concluindo o Projeto”, destacou o líder Tenharim.
Segundo ele, até 2021, só poderão lecionar nas aldeias professores licenciados, por isso a urgência em dar início ao processo de formação superior. “Se não estivermos preparados, há um risco de demissão em massa de professores indígenas, e a contratação de professores não indígenas para lecionarem nas comunidades. Isso já seria suficiente para desestruturar o que temos buscado como sendo uma educação escolar indígena”, analisou Angélisson.
Ao qualificar a reunião ocorrida na última segunda-feira, 7, a vice-coordenadora do Curso de Formação, professora Michele Serrão, ressaltou que “a atividade foi muito proveitosa, inclusive, com a participação de 13 docentes do Instituto, todos muito empenhados nesse trabalho em parceria entre a Faculdade de Educação, através do seu Departamento de Educação Escolar Indígena, e os professores do IEAA”. Segundo ela, o interesse de todos os participantes foi motivador, de modo que a Comissão deu início ao planejamento necessário para a oferta.
“O curso da Faced já existe há 11 anos, inclusive com três turmas de egressos. Agora, nós estamos em busca de trabalhos em parceria para a expansão do nosso trabalho, atendendo municípios que, até então, não tinham sido contemplados. Chegou o momento de atender às solicitações destas comunidades”, completou a professora Michele.
Adicionalmente, o professor Jordeanes Araújo lembrou que essa demanda surgiu pela iniciativa do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-Brasileiras e Indígenas (NEABI), vinculado ao Campus da Ufam em Humaitá. "Na verdade, esse núcleo do IEAA é que está à frente de todo o processo", acrescentou o docente.
Fórum com as comunidades
Além do calendário de implantação, foram discutidos o currículo do curso e o projeto político-pedagógico. O processo seletivo, conforme informaram as professoras da Faced, será realizado pela Comissão Permanente de Concursos (Compec), e as aulas devem iniciar em abril de 2020.
Para dar continuidade ao trabalho, está agendado para ocorrer nos dias 30 e 31 de outubro de 2019, nas dependências do IEAA, o I Fórum para Implantação da Turma de Licenciatura Intercultural de professores indígenas do Sul do Amazonas. Nessa data, a coordenação do Curso da Faced estará novamente no Campus de Humaitá para conduzir as deliberações, ao lado do corpo docente local e dos representantes comunitários.
“A ideia do evento é justamente de reunir a Universidade com as comunidades indígenas para, juntas, estabelecerem as regras para a oferta dessa turma”, explicou a professora Eulina Nogueira, pedagoga e docente do IEAA-Ufam, ao destacar ainda que se buscará associar ensino, pesquisa e extensão desde o primeiro período. Junto com ela, os professores Jordeanes Araújo e Viviane Vidal da Silva destacaram a importância da licenciatura intercultural.
Em arremate, o pró-reitor de Extensão, professor Ricardo Bessa, declarou que, no que depender dele, será prestado amplo e irrestrito apoio às atividades do Fórum, em particular no tocante ao deslocamento dos docentes entre Manaus e Humaitá. “Ficamos muito contentes com essa iniciativa, principalmente porque é uma ação que vem para atender a vontade dessas comunidades já de um tempo. Além dessa turma de licenciatura, prevista para começar em 2020, também estamos articulando uma parceria com o Ifam [Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas] para a oferta de uma Especialização em Educação Ambiental”, disse o titular da Pró-Reitoria de Extensão.
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