Extremos climáticos na Amazônia e estratégias de redução são debatidos nos dois dias do VI Seminário Internacional de Meteorologia e Climatologia, na Ufam
O desafio do evento é promover a ideia de que é possível conciliar desenvolvimento e cuidados com o ambiente, tendo em vista o papel da Universidade ao partilhar ferramentas de redução de impactos dos eventos extremos
Texto e fotos: Cristiane Souza | Revisão: Rozana Soares
Em sua sexta edição, o Seminário Internacional de Meteorologia e Climatologia do Amazonas (Simca) traz para o centro do debate a importância de pensar soluções de mitigação das consequências de eventos extremos no clima amazônico, que têm se tornado recorrentes. Nesta quinta e sexta, dias 28 e 29 de novembro de 2024, pesquisadores, gestores ou executores de políticas públicas, estudantes e atores de segmentos com interesse na temática, do Brasil e do mundo, participam de palestras, debates e compartilhamento de propostas sustentáveis para a Amazônia. As atividades, organizadas pela Unidade de Pesquisa em Energia, Clima e Desenvolvimento Sustentável (Upec), ocorrem na Faculdade de Ciências Agrárias (FCA), setor Sul do campus Sede da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
A abertura contou com a presença, além do reitor da Ufam e anfitrião, professor Sylvio Puga, e do coordenador geral do Seminário, professor Eron Bezerra, das seguintes autoridades: representando a FCA, a professora Ana Francisca Tibúrcia Ferreira; o diretor-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Henrique Pereira; o presidente do Núcleo Regional da Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMet), Rômulo da Silveira; o superintendente do Banco da Amazônia (Basa), Éden Sávio da Silva; a presidente do Instituto Amazonas sem Fronteira, Maria Lúcia de Oliveira; o secretário da Defesa Civil do Amazonas, Clóvis Araújo; o coordenador-geral de Desenvolvimento Regional da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Igor Costa; e a representante da Federação Governo Lula, Lúcia Anthony.
Para o professor Sylvio Puga, que participa desde a primeira edição do Seminário, ainda que a temática esteja ligada à ordem do dia, fazer essas discussões lá em 2017, quando ele iniciou, era algo inédito e visionário. “Parabenizo a toda a equipe organizadora, na pessoa do professor Eron Bezerra, e aos participantes e pesquisadores que trazem suas contribuições para o debate. Há seis edições, o Seminário propõe que olhemos a Amazônia além dos seus limites, sendo este o espaço ideal para reflexão de diferentes pensamentos. Ora, se houvesse um pensamento único, a Universidade não teria razão de existir”, situou o reitor da Ufam sobre a razão de ser e os frutos desse evento.
Coordenador geral do Simca, o professor Eron Bezerra argumentou que a universalidade atribuída aos temas relativos à Amazônia foi o fator que naturalmente elevou o Seminário, após três edições, a ganhar status de internacional. “Isso ocorreu em 2019 e, desde então, contamos em todos eles com a participação de pesquisadores, palestrantes e expositores de trabalhos científicos de países como Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Suriname, assim como também de outras regiões do Brasil. Essas vozes todas convergem para o nosso objetivo de diversificar e amplificar o interesse nos temas de mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável, políticas públicas, as demandas da sociedade e o papel da Universidade nesse contexto, por meio da pesquisa, da inovação e do desenvolvimento de ferramentas de controle e de redução de impactos causados ao longo dos séculos”, resumiu o diretor do Centro de Ciências do Ambiente (CCA) e gestor da Upec/Ufam.
Papéis estratégicos
Há 70 anos, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) tem atuado nas pesquisas sobre Climatologia e Ciências Florestais, principalmente entendendo como a floresta é afetada pelas variabilidades do clima, e vice-versa. “Alguns dos resultados dessas investigações mostram sinais claros de que a floresta está atingindo seu limite no sequestro de carbono e modificando sua resposta, que é multifatorial. Incêndios florestais começam a avançar sobre as áreas de floresta primária, que continuava resistente a esse tipo de incêndio até 2023”, informou o diretor-presidente do Instituto e professor da Ufam, Henrique Pereira. “O que está em debate aqui não são tanto as causas, mas sobretudo as formas de enfrentamento à emergência climática, tendo como fundamentos os princípios da prevenção e da precaução, do Direito Ambiental”, destacou o titular do Inpa, parceiro da Universidade em diversas pesquisas sobre temas da região, inclusive a respeito do fragmento florestal de cerca de 600 hectares onde a Ufam está localizada.
Por falar sobre a necessidade de planejamento e prevenção, a Defesa Civil do Amazonas, que também esteve representada no evento, é responsável pelo combate às consequências de eventos extremos. Para além das ações na ponta, o órgão mantém uma base de dados sobre, entre outros, as condições climáticas nos municípios amazonenses. Ali, é possível fazer consultas que ajudam a antever condições adversas atípicas diante de possíveis eventos extremos que ocorrem na área coberta pelo órgão estadual.
Popularizar a ciência
Do ponto de vista da educação e da comunicação com outros setores e atores, é importante mencionar a presença de um grupo de secundaristas do Instituto de Educação do Amazonas (IEA). Professora de Biologia há mais de duas décadas, Márcia de Castro Gomes ficou responsável por trazer 40 estudantes do ensino médio para serem ouvintes nos dois dias. Segundo ela, que leciona a disciplina “Química Verde” aos alunos do segundo ano, trata-se de uma oportunidade para que os alunos da educação básica tenham acesso a um debate qualificado, no ambiente da Universidade, sobre mudanças climáticas e eventos extremos, os quais têm consequências no cotidiano deles. Um dos convidados é Fernando Rodrigues Gama, 17, que espera aprender muito sobre os temas.
Na esteira da demanda da sociedade por formas de comunicação mais próximas da realidade das pessoas que vivenciam as consequências da emergência climática na ponta, um dos tópicos abordados no evento é a divulgação científica. A 5ª Mesa - População da Ciência: “Tempo” de falar com a sociedade, será realizada nesta sexta-feira, 29, às 14h.
O evento também alcançou outros setores da Ufam, como o Instituto de Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA), em Humaitá. Ao todo, um grupo de 13 pessoas, entre servidores, estudantes de graduação e de pós, vieram a Manaus para participar dos dois dias de Seminário, sob coordenação do professor Carlos Querino.
Síntese da programação
Neste primeiro dia, 28, além da conferência de abertura, foram realizadas, pela manhã, a 1ª e a 2ª Mesa, intituladas “Painel Internacional sobre Políticas Climáticas Internacionais: o papel da Amazônia na Agenda Global” e “Extremos de Seca e Cheia na Amazônia”. No período vespertino no primeiro dia de evento, há duas capacitações, uma em “Energia Solar Fotovoltaica” e outras em “Mercado de Carbono”, além de apresentação de trabalhos científicos inéditos produzidos por estudantes sob orientação de pesquisadores, e o Observatório de Astronomia da Ufam.
Para o segundo dia do VI Sicam, está prevista a realização de mais três Mesas (“Investimentos estratégicos na Amazônia e medidas mitigadoras de impactos ambientais - exploração de petróleo à margem equatorial - BR/319”, “Ferramentas utilizadas no monitoramento dos extremos climáticos” e “Popularização da ciência - Tempo de falar com a sociedade”. À tarde, serão ministradas as palestras “Mútua” e “A Importância da Floresta em Pé para a conservação do clima”, seguidas da apresentação cultural de encerramento.
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