Ufam acompanha comitiva do MEC em oitivas sobre universidades indígenas
Por Ana Carla Santos
Ascom Ufam
São Gabriel da Cachoeira, Manaus e Tabatinga receberam os representantes do Ministério. Dados serão apresentados e avalizarão de que forma as estruturas educacionais serão implantadas
A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) integrou a comitiva e acompanhou as discussões promovidas pelo Ministério da Educação (MEC), em São Gabriel da Cachoeira, sobre a criação da universidade para os povos indígenas. Durante aproximadamente dois meses, os seminários, que funcionam como oitivas, passarão por 12 estados brasileiros com a finalidade de subsidiar a criação, implementação e organização da estrutura de educação superior. Essa iniciativa faz parte das ações do Grupo de Trabalho instituído pela Portaria n° 350, de 15 de abril.
Pela Ufam, representaram o reitor, professor Sylvio Puga e a diretora da Faculdade de Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais, professora Iraildes Caldas Torres.
A criação de universidades indígenas e outras instituições de ensino superior é uma demanda antiga dos povos indígenas. Por meio delas, eles teriam garantia de gestão e de recursos para sua consulta e participação, em todas as etapas do processo de construção do projeto, com recursos humanos e financeiros adequados para seu funcionamento e sua manutenção, priorizando a atuação dos indígenas em seu quadro institucional. São Gabriel da Cachoeira (junto com Santa Isabel do Rio Negro), ambos na mesma calha de rio, têm as maiores populações indígenas do País. A primeira é, inclusive, a cidade brasileira com maior número absoluto de indígenas segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Durante dois dias, os debates, iniciados no domingo (28), resultaram na mobilização de quase 800 pessoas e apontaram para formações nas áreas técnica e tecnológica, acadêmica, formação profissional e formação para especialistas indígenas. "O principal é que não saiamos das nossas comunidades, deixemos para trás as nossas referências, para termos a obrigação de nos adaptarmos a um ambiente que nos deixa desconfortáveis. Isso em detrimento do nosso anseio de recebermos educação de qualidade próximo aos nossos familiares", diziam as vozes uníssonas de jovens que se pronunciaram.
Todos os dados e falas foram registrados formalmente e seguirão compilados para serem organizados pelo MEC e se somarão aos demais também coletados nas demais audiências públicas.
Levantamentos recentes dos movimentos e lideranças indígenas dão conta que mais de 70 mil universitários são indígenas e que além de estarem na Ufam, EUA e IFam, também estão em universidades públicas de outros estados como São Paulo. "Na Unicamp, 90% dos alunos matriculados são do calha do Rio Negro. Nossa angústia é a de que lá, sofrem preconceito, exposição e são alijados socialmente. Essas estruturas não se prepararam para recebê-los. A gente não quer tratamento diferenciado, queremos um sistema inclusivo", afirmou Arlindo Baré, uma das lideranças e que é um dos discentes que saiu do município por uma graduação.
As oitivas reuniram diversas representações. São elas: coordenadora de políticas de Educação Escolar Indígena- MEC - Fernanda Frade, diretora de Promoção ao desenvolvimento sustentável - Funai - Lúcia Alberta Andrade, coordenação de Educação Escolar Indígena - MPI (representando a ministra Sônia Guajajara, Edilson Martins Baniwa, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Rodrigues Barroso, Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam), Mariazinha Baré, representante da Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena (CNEEI/Forreia), Alva Rosa Lana Vieira, representante do Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena (CEEI-AM), Ivete Tukano, coordenador regional da Seduc/SGC, Domingos Sávio Camico Agudelos, representante do Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI), professor Gersen José dos Santos Baniwa, gerente de Educação Escolar Indígena (GEEI/AM), Sansão Tikuna, representante da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), Amanda Marqui, representante da Associação dos Profissionais de Educação do Alto Rio Negro (Apiarn), professora Bernadete Teixeira, coordenadora do Conselho dos Professores Indígenas do Alto Rio Negro (Copiarn), Maria Leonilda Batista, União Plurianual dos Estudantes Indígenas (Upei), Arlindo Baré, assessor de campo no Programa de Educação Diferenciada e Apoio ao Processo Organizativo da Secoya, Augusto César Rocha e Alencar, além da vereadora da Câmara Municipal de São Gabriel da Cachoeira, Suely Ambrósio.
O reitor, professor Sylvio Puga, encerrou juntamente com o MEC a rodada de pronunciamentos e colocou a Universidade à disposição para continuidade do projeto de expansão da educação superior do Ministério da Educação. "A Universidade está no Rio Negro há mais de 30 anos, comprometida com a pauta e com os povos dessa região e de todo Estado. Nossa missão além da educação, é social. Portanto, continuem contando com nosso corpo docente, nossos pesquisadores, e nossa cooperação para fazer de ideias tão importantes como estes, uma realidade", frisou.
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