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Portugal - Ufam conquista principal prêmio mundial em Oftalmologia

Publicado: Quinta, 19 de Setembro de 2019, 12h44 | Última atualização em Quinta, 14 de Novembro de 2019, 12h58 | Acessos: 2556

Projeto Amazônico Oftalmologia Humanitária trabalha na prevenção da cegueira e da deficiência visual através da prestação de serviços oftalmológicos a populações carentes

Por Irina Coelho e Cristiane Souza
Equipe Ascom/Ufam
 

O Projeto Amazônico Oftalmologia Humanitária, promovido pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em parceria com o Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia (Ipepo/Unifesp), Fundação Piedade Cohen (Fundapi), Sociedade Amigos da Marinha (Soamar) e indústrias parceiras conquistou, no último dia 4, em Lisboa, o Prêmio Champalimaud de Visão 2019. Além do reconhecimento internacional, o Ipepo/Unifesp receberá, em nome do grupo, 330 mil de euros (R$ 1,4 milhões) para expandir e aprimorar ações relacionadas ao combate à cegueira.  

Os vencedores anunciados foram todos brasileiros. Ao lado do Ipepo/Unifesp, os outros dois projetos premiados são da Fundação Altino Ventura e do Serviço de Oftalmologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De acordo com o professor e oftalmologista Jacob Moisés Cohen, vice-reitor da Ufam, este é o reconhecimento dos serviços oftalmológicos humanitários prestados às pessoas com acesso limitado à assistência ocular.

“O Oftalmologia Humanitária é um trabalho de mais de 20 anos e representa a união de esforços entre universidades públicas, instituições filantrópicas e as indústrias que produzem insumos e equipamentos de Oftalmologia. Além dos atendimentos clínicos, o projeto oferece cirurgia de catarata (cegueira reversível) e pterígio. Começamos operando apenas catarata e depois verificamos que as pessoas atendidas precisavam de óculos e não tinham condições econômicas de adquirir. Mais uma vez, contamos com o apoio de empresas parceiras e começamos a oferecer Lupa Leitor. Os procedimentos são realizados por cirurgiões reconhecidos mundialmente que se dispõem a participar, voluntariamente, da ação”, enfatizou.

Para o presidente do Ipepo/Unifesp, oftalmologista e professor Rubens Belfort Junior, o Prêmio Champalimaud de Visão 2019 não tem apenas valor financeiro, mas, principalmente, pela credibilidade que traz ao Brasil e às nossas instituições. “O Ipepo/Unifesp se orgulha de ter esta parceria forte com a Ufam, que garante apoio institucional e ainda incorpora aporte privado das indústrias e grandes parceiros como a Sociedade Amigos da Marinha (Soamar). Este prêmio é adequado ao esforço realizado por todos nós e, principalmente, pela relevância de seguirmos trabalhando de maneira construtiva na Amazônia. Com a verba recebida, vamos seguir levando a melhor tecnologia, inclusive de recursos humanos, para as populações da Amazônia sob orientação do professor Jacob Moisés Cohen”, falou.

Segundo o presidente da Sociedade Amigos da Marinha (Soamar/Manaus), Sérgio Vianna, a Soamar é o elo de ligação entre as instituições civis que integram o projeto Oftalmologia Humanitária e a Marinha do Brasil. “No projeto, nós temos a função de intermediar as relações entre as Universidades e a Marinha do Brasil. Aos firmamos a parceria foi possível utilizar as embarcações de assistência hospitalar da Marinha na ação. Assim, com o apoio da Marinha, o atendimento oftalmológico chega nas regiões mais distantes do Amazonas”, explicou.

Em 2019, o Oftalmologia Humanitária realizou expedição ao interior do Amazonas para levar saúde, esperança e dignidade à população ribeirinha. Desta vez, a expedição passou por cinco municípios localizados ao longo da calha do Rio Madeira: Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã, Borba e Nova Olinda do Norte. A ação foi realizada entre os dias 13 e 21 de abril, como resultado da expedição, foram realizadas cerca de 500 cirurgias de catarata ou de pterígio e foram entregues mais de cinco mil pares de óculos.

Os números do projeto surpreendem, afinal, já são mais de 30 mil pessoas atendidas com assistência especializada e prescrição de medicamentos, além da doação superior a 20 mil lupas para perto e das intervenções cirúrgicas que superam dez mil procedimentos. Nos últimos dois anos, a Ufam qualificou o Projeto Amazônico como um programa de extensão vinculado à Pró-Reitoria de Extensão (Proext). Além de prestar assistência à população do interior, também são coletadas informações para subsidiar publicações científicas.

Os próximos passos do projeto Amazônico Oftalmologia Humanitária incluem aumentar as áreas de impacto no Baixo Amazonas. Os docentes querem também investir no combate a uma doença pouco valorizada e muito comum no interior amazônico, o pterígio.

Três décadas de trabalho

A proposta de levar cidadania e qualidade de vida para a população do interior do Amazonas, por meio de atendimento oftalmológico de alto nível, existe há mais de 30 anos, fruto de uma parceria entre médicos conhecedores da carência das pessoas que vivem longe dos grandes centros urbanos. Tendo percorrido mais de 20 municípios, em alguns mais de uma vez, o projeto cresce com o apoio de instituições públicas e privadas do Brasil e do exterior.

Na década de 1980, uma pesquisa revelou que a falta de assistência especializada seria uma das principais causas de cegueira entre a população do interior do Amazonas. Mais de 30 anos depois, Manaus ainda absorve a grande parte dos oftalmologistas do estado, numa relação de 180 na capital contra cerca de 10 nos outros municípios, quase todos com atuação itinerante.

Diante desse cenário, um grupo de médicos do Instituto de Oftalmologia de Manaus passou a organizar mutirões oftalmológicos. Anos mais tarde, em 2002, eles criaram a Fundação Piedade Cohen (Fundapi), instituição de utilidade pública sem fins lucrativos, para fazer frente a uma demanda reprimida de pacientes com doenças oftalmológicas no interior do estado, onde a catarata é a principal causa de deficiência visual grave e de cegueira irreversível.

A proposta ganhou força ao longo dos anos, e a Fundapi fechou parcerias com universidades públicas e instituições filantrópicas, como a Ufam; o Ipepo; a Johns Hopkins University, dos Estados Unidos; a Universidade de Coimbra e a Fundação Champalimaud, ambas de Portugal; e o Prasad Eye Institute, em Hyderabad, na Índia.

Ao lado do vice-reitor da Ufam, professor Jacob Moysés Cohen, os oftalmologistas e professores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Rubens Belfort Matos Júnior e Walton Nosé abraçaram o projeto, possibilitando a adesão do Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia (Ipepo) e da Eye Clinic.

Modernas cirurgias de catarata e doação de óculos se intensificaram pela atuação de parceiros como Johnson & Johnson, Lupas Leitor, Allegran, Latinofarma e Eye Pharma.

Ao mesmo tempo, a Marinha do Brasil - 9º Distrito Naval começou a atuar no projeto por intermédio da Sociedade Amigos da Marinha (Soamar). A parceria trouxe ainda mais segurança e mobilidade para as expedições que desafiam as calhas dos rios amazônicos.

Onze municípios do Baixo e Médio Amazonas já foram atendidos por mais de uma vez. Eles são: Itacoatiara, Silves, Itapiranga, São Sebastião do Uatumã, Urucará, Parintins, Nhamundá, Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Maués e Urucurituba. Na região do Médio Solimões, foram oferecidos por mais de uma vez atendimentos nos municípios de Coari e Tefé. Já na calha do Alto Solimões, o atendimento ocorreu nas cidades de Tabatinga, Benjamin Constant, Atalaia do Norte, São Paulo de Olivença, Amaturá e Santo Antônio do Içá.

Mais parcerias

A Fundação Piedade Cohen (Fundapi), com auxílio da Fundação António Champalimaud, oferece o serviço gratuito de diagnóstico e tratamento de oncologia ocular. Desde 2014, já foram mais de 500 pessoas atendidas, diagnosticadas e tratadas na capital. O Centro de Oncologia é vinculado ao Programa de Residência Médica do Instituto de Oftalmologia de Manaus e está localizado na Avenida Sete de Setembro, nº 1613 - Centro – Manaus.

Prêmio António Champalimaud

O Prêmio António Champalimaud de Visão tem o apoio da "Visão 2020 – O Direito à Visão" e é atribuído anualmente e alternadamente entre as contribuições para a investigação genérica na área da visão (em anos pares) e contribuições para o alívio dos problemas da visão, fundamentalmente nos países em desenvolvimento (em anos ímpares). A iniciativa é global para a prevenção da cegueira lançado em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e com a Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira.

A premiação não se dirige apenas as grandes organizações mundiais, mas a todas as organizações que, independentemente da sua dimensão, consigam demonstrar resultados com grande impacto. Estas podem ter um âmbito local, nacional, regional ou internacional. O júri é constituído por um distinto painel de cientistas internacionais e de notáveis figuras públicas.

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