Consuni outorga título de Doutor Honoris Causa ao escritor Milton Hatoum
O bom filho à casa torna, já diz o ditado. E como é bom, o filho sempre retorna para trazer alegria aos que estão em casa. Assim pode ser descrita a sessão solene de outorga do título de Doutor Honoris Causa ao escritor e ex-professor da Ufam, Milton Assi Hatoum. A cerimônia foi realizada na noite de quinta-feira, 9 de março, no auditório Dr. Zerbini, da Faculdade de Medicina.
A Ufam concede o título de Doutor Honoris Causa a uma personalidade que tenha se distinguido seja pelo saber, seja pela atuação em prol das Artes, das Ciências, da Filosofia e das Letras ou do melhor entendimento entre os povos. Milton Hatoum é amazonense, formado em Arquitetura, mas foi na Letras e na Literatura que construiu sua carreira escrevendo obras que apresentam o viver amazônico para além dos nossos rios.
Familiares, amigos, membros da comunidade acadêmica e admiradores presenciaram a homenagem feita pela Universidade, por meio do Conselho Universitário (Consuni), ao autor de “Dois Irmãos”, que recebeu a maior comenda concedida pela Instituição das mãos do presidente do Conselho, o reitor Sylvio Puga.
“O Doutor Honoris Causa Milton Hatoum levou o nome de Manaus, do Amazonas e da Amazônia para o mundo. Seus livros estão traduzidos em 17 idiomas. Levando a Amazônia ao conhecimento universal. Suas obras têm o reconhecimento com premiação dentro e fora do Amazonas. Sua escrita oferece ao seu leitor uma visão crítica da nossa realidade, o que não poderia ser diferente”, declarou o reitor Sylvio Puga. “Fora daqui, existe uma visão muito romanceada sobre a nossa região e o senhor tem trabalhado com a sua escrita para desmistificar esse romance, mostrando que nós, brasileiros da Amazônia, também lutamos por um Brasil melhor, mais justo, mais solidário e, com essa honraria, que a Universidade Federal do Amazonas, por meio do seu Conselho lhe concede, ela reconhece que um amazonense ao fazer história fora dos nossos limites leva também o nome do nosso Estado e a partir de agora o nome da nossa Ufam também e isso honra a todos nós”, completou o gestor.
Durante a solenidade, os presentes puderam acompanhar um pouco da trajetória de vida e profissão do escritor Milton Hatoum, apresentada pelos professores Ernesto Renan de Melo Freitas Pinto e a Iraildes Caldas Torres. Antes de dedicar-se por completo à literatura escrita, Milton Assi Hatoum foi docente da Casa por quinze anos, de 1984 a 1999, vinculado ao extinto Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), onde lecionou Língua e Literatura Francesa.
“Receber essa homenagem é o reconhecimento ao meu trabalho de escritor, de professor, mas ao mesmo tempo é um reconhecimento mútuo porque eu devo muito à Universidade, onde eu trabalhei por 15 anos. Esse período representou uma enorme experiência na minha vida e também um aprendizado com os alunos, com a comunidade, com outros professores. Foi um período muito fértil da minha vida e, na verdade, me preparou para escrever o “Dois Irmãos”, expôs o homenageado da noite. “Eu dedico esse título e essa homenagem aos professores e educadores, homens e mulheres que formaram e formam leitores e pesquisadores nas áreas de literatura, humanidades e ciências. Quero terminar lembrando as palavras do narrador de “Vidas Secas”: na escola, os filhos vão aprender coisas difíceis e necessárias”. Graciliano Ramos sabia que só o díficil é belo e só o belo é uma alegria para sempre”, disse Hatoum.
A propositura para a titulação teve início no Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (DCS/IFCHS) e foi relatada pelos docentes e conselheiros Cláudio Gomes da Vitória (Presidente), Geone Maia Corrêa (Membro) e Ana Cristina Fernandes Martins (Membro).
Milton Assi Hatoum
Romancista, contista, professor e tradutor. Milton Assi Hatoum, destaca-se por retratar conflitos pessoais e familiares no contexto geográfico, histórico e sociocultural da Amazônia, inspirando-se em sua vivência como descendente de libaneses e como migrante pelo Brasil.
É autor de romances como Relato de um certo Oriente (1989), livro de estreia, publicado quando tinha 37 anos. O romance é ambientado em Manaus e relata os conflitos de uma família de libaneses, introduzindo questões sobre a construção da identidade do imigrante, um tema característico da obra de Hatoum.
Suas obras, pertencentes à literatura contemporânea, são caracterizadas pelo teor memorialístico, elementos regionais e hibridismo cultural. Além disso, é recorrente a presença de personagens melancólicos.
Onze anos após a publicação do primeiro romance, Milton publica Dois Irmãos (2000). Entre a publicação do primeiro livro e do segundo, publicou diversos contos em jornais e revistas brasileiras e do exterior.
Em 2001, ganhou o Prêmio Jabuti pelo seu romance Dois irmãos e, em 2006, pelo romance Cinzas do Norte, que também ganhou o Prêmio Portugal Telecom. O livro ainda recebeu o Grande Prêmio da Crítica da APCA, o Prêmio Bravo! e o Prêmio Livro do Ano da CBL. Além disso, em 2008, Milton Hatoum recebeu a Ordem do Mérito Cultural. No ano seguinte, ganhou outro Jabuti pelo seu livro Órfãos do Eldorado. Atualmente, é colunista do jornal O Estado de S. Paulo. Em janeiro de 2017, Dois Irmãos estreou em formato de minissérie na TV Globo, com direção de Luiz Fernando Carvalho.
Obras
Relato de um certo Oriente (1989); Dois irmãos (2000); Cinzas do Norte (2005); Órfãos do Eldorado (2008); A cidade ilhada (2009); Um solitário à espreita (2013); A noite da espera (2017).
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