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Consuni aprova por unanimidade a concessão do título de Doutor Honoris Causas aos escritores Márcio Souza e Milton Hatoum

Publicado: Segunda, 19 de Setembro de 2022, 18h09 | Última atualização em Sexta, 12 de Maio de 2023, 16h08 | Acessos: 879
por Irina Coelho com informações do parecer da Comissão Especial 
fotos: divulgação
Equipe Ascom/Ufam
 

O Conselho Universitário da Universidade Federal do Amazonas (Cosuni/Ufam), na última quinta-feira, 15 de setembro, aprovou por unanimidade a concessão de título de Doutor Honoris Causa aos escritores Márcio Gonçalves Bentes de Souza e Milton Assi Hatoum. A propositura teve início no Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (DCS/IFCHS) e foi relatada pelos docentes e conselheiros Cláudio Gomes da Vitória (Presidente), Geone Maia Corrêa (Membro) e Ana Cristina Fernandes Martins (Membro).

Segundo a Resolução nº 001/2007- Consuni/Ufam, Doutor Honoris Causa é uma personalidade que tenha se distinguido seja pelo saber, seja pela atuação em prol das Artes, das Ciências, da Filosofia e das Letras ou do melhor entendimento entre os povos. Durante a reunião, o presidente do Consuni, reitor Sylvio Puga, parabenizou o IFCHS pela iniciativa e a Comissão responsável pelo parecer. 

"Parabenizo o Conselho Universitário pela decisão unânime. Estamos honrados e felizes pelos novos doutores Honoris Causa e tão logo o Instituto faça o contato com os agraciados já é possível tomar as providências para que essas honrarias sejam concedidas ainda em 2022”, afirmou o reitor.       

Parecer da Comissão

A Comissão Relatora fez um apanhado sobre a trajetória literária e obras dos escritores Márcio Bentes Gonçalves Souza e Milton Assi Hatoum. “Diante do exposto, ao considerar as contribuições dos escritores em tela e suas reconhecidas contribuições no âmbito da literatura diante das premiações recebidas, bem como as contribuições ao cinema e teatro respectivamente, em âmbito local, nacional e internacional, que projetaram o Amazonas e a Amazônia ao mundo, por intermédio de suas obras, somos de parecer favorável à concessão do título de Doutor Honoris Causa aos escritores Márcio Gonçalves Bentes de Souza e Milton Assi Hatoum, considerando, ainda, o Art. 9º da Resolução nº 001/2007-Consuni que limita a quantidade de concessões do título em destaque ao ano”, votou a Comissão formada pelos professores Cláudio Gomes da Vitória (Presidente), Geone Maia Corrêa (Membro) e Ana Cristina Fernandes Martins (Membro).

Conselho 

O conselheiro José Eduardo Gomes Domingues lembrou que esse é um processo de reconhecimento de dois grandes escritores brasileiros e desse estado. “Quem quer conhecer e compreender a Amazônia deve ter dentre as referências os dois autores. Lê-los é um prazer. Parabéns pelo reconhecimento feito pelo Instituto e ao relato da Comissão que conta a trajetória desses dois grandes autores que tratam da nossa história por meio da literatura”, enfatizou o docente. 

Segundo a professora Fabiane Maia Garcia, são dois escritores que falam muito do que nós somos ao resgatar nossa identidade amazônica. “Ter esses dois autores reconhecidos é um momento histórico porque eles contribuíram para a valorização do que nós somos e para nos identificarmos como nortistas, com sentimento de pertencimento, inclusive, dentro das práticas científicas cotidianas”, destacou a conselheira. 

A diretora do IFCHS, proponente da propositura, a docente Iraildes Caldas, agradeceu ao Conselho a acolhida e a concessão do pedido. “Nós temos a alegria de dizer que o Milton Hatoum é do Amazonas, sendo uma personalidade mundial, que engrandece a literatura ocidental. Podemos também dizer que Márcio Souza, tanto na dramaturgia quanto nos estudos sobre a Amazônia, tem uma grande contribuição para o nosso estado e nossa região. É bem merecida essa honraria e gostaria de agradecer aos colegas que compuseram a Comissão e elaboraram o parecer”, finalizou.

Márcio Souza

Márcio Gonçalves Bentes de Souza é romancista, dramaturgo, ensaísta, contista e diretor de cinema. Sua obra se destaca pela sua busca constante em desvendar a Amazônia, desde o processo de colonização do Norte do país, a exploração do látex na passagem do século XIX para o XX, durante o chamado ciclo da borracha, a questão indígena e os abismos sociais nascidos do embate entre modernidade e arcaísmo na região se constituem em matéria-prima de suas narrativas. 

Ainda na adolescência, escreveu críticas de cinema para jornais e participou da fundação do Grupo de Estudos Cinematográficos de Manaus. Mudou-se para São Paulo em 1965 e ingressou no curso de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP). Na mesma época, trabalhou como roteirista para produtores da Boca do Lixo. Publica O Mostrador de Sombras (1967), coletânea de ensaios sobre cinema, dirige o curta-metragem Bárbaro e Nosso (1969), e realiza o filme A Selva (1972). Em 1973 volta a Manaus, ingressa no Teatro Experimental do Sesc (TESC) e assume um cargo na Fundação Cultural do Amazonas. 

Marcio Souza passa a ter maior projeção na literatura com o romance Galvez, Imperador do Acre (1976). Partilhando do desejo de experimentação que orienta nossa literatura nos anos 1970, sua ficção retoma, sob chave cômica, a tradição brasileira do romance histórico, gênero cultivado no país desde o romantismo por autores como José de Alencar (1829-1877). Satirizando episódios da história da Amazônia, Galvez, Imperador do Acre, seu mais famoso livro, narra a trajetória de Luiz Galvez, aventureiro espanhol que chega ao Brasil e é coroado imperador do Acre depois de cumprir inúmeras peripécias. Valendo-se de recursos como a colagem e o fragmento, a paródia e o burlesco, o hibridismo entre a linguagem jornalística e literária, o livro mantém um vivo diálogo com o movimento modernista brasileiro, sobretudo com as ideias de Oswald de Andrade (1890-1954).

Outro livro de sucesso de Márcio Souza é Mad Maria (1980), adaptado para uma minissérie televisiva em 2005. Por meio da conjunção de personagens e fatos fictícios e reais, o livro narra a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, ocorrida entre 1907 e 1912, para integrar a Amazônia brasileira à Bolívia. O título da obra faz referência à locomotiva a vapor, apelidada no Brasil, no início do século XX, de Maria Fumaça, e ao ambiente de insanidade que sua chegada promove. Em um calor infernal e com grandes desafios naturais (como a infestação de escorpiões após as chuvas), os trabalhadores, de diferentes etnias, envolvem-se em constantes conflitos por motivos banais, que demonstram o abandono de leis, regras e da própria razão; o que explica o nome louca (mad, em inglês) Maria.

Entre 1981 e 1982, publica em folhetim A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi, no jornal Folha de S.Paulo. Transfere-se para o Rio de Janeiro em 1983 e lança o romance A Ordem do Dia (1983). Em 1984 funda a editora Marco Zero. Intelectual engajado, também redige ensaios sobre problemas culturais e sociais da Amazônia, como A Expressão Amazonense (1978) e O Empate contra Chico Mendes (1986). Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), dirigiu o Departamento Nacional do Livro e a Fundação Nacional de Artes (Funarte). 

Publica a tetralogia Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro, composta dos romances Lealdade (1997), Desordem (2001), Revolta (2005) e Derrota (2006). Essa obra apresenta, por meio de ficção, momentos históricos relevantes do Pará, explorando especialmente o movimento da Cabanagem, ocorrido entre 1783 e 1840. Registra, assim, a reação do Norte à tentativa de unificação do território e de construção de uma identidade nacional, Márcio Souza mostra o desejo de independência dessa região e sua discordância com o centro político-cultural brasileiro da época, um momento, de certa forma, apagado pela história tradicional que narra o forjar da nação brasileira. 

Em 2009, lança o livro História da Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do século XXI. Fruto de duas décadas de pesquisa, o livro compila a história da Amazônia, desde a chegada do Homo sapiens, há 40 mil anos, até os dias de hoje. De acordo com o autor, a ideia de escrever a obra nasce de sua experiência docente na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, no final da década de 1990, quando ministra alguns cursos e descobre que não há nenhuma obra em que a história da Amazônia é compilada e consolidada.

Uma das mais importantes vozes da moderna literatura brasileira, Márcio Souza é dono de uma obra variada, que transita por diferentes gêneros e linguagens artísticas, tendo no romance, no teatro e no ensaio histórico-sociológico seus principais veículos de expressão e desenvolvimento. Ainda que diversificada, sua produção é atravessada pelo tema constante da história da região amazônica. A partir de seu olhar, o Brasil e o mundo podem desbravar a Amazônia e conhecer a riqueza de sua história e de seu povo.

Obras

Galvez, Imperador do Acre; Mad Maria; A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi; As Folias do Látex; A expressão amazonense (1977); A ordem do dia: folhetim voador não identificado (1983); Operação silêncio (1978); Tem piranha no pirarucu (1980); O palco verde (1984) - Ensaio para o Teatro; A Condolência (1994); Mostrador de Sombras (1967); A caligrafia de Deus (1994); Breve história da Amazônia (1994);  O Empate contra Chico Mendes (1995); O fim do terceiro mundo (1995); Anavilhanas: o jardim do Rio Negro (1996) coautoria com José de Paula Machado; O brasileiro voador: um romance mais leve que o ar (1996); Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro: tetralogia (1997); Silvino Santos: o cineasta do ciclo da borracha (1999); Entre Moisés e Macunaíma (2000) em coautoria com Moacyr Scliar; Fascínio e repulsa: estado e cultura no Brasil (2000); Lealdade (2001); A paixão de Ajuricaba (2005); Chico Mendes (2005); Revolta (2005); História da Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do século XXI (2009); A substância das sombras: cinema arte do nosso tempo (2010); Amazônia Indígena (2015).  

Prêmios

Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, de Literatura em Ficção, em 1997, pela obra Lealdade.

Milton Assi Hatoum

Romancista, contista, professor e tradutor. Milton Assi Hatoum, destaca-se por retratar conflitos pessoais e familiares no contexto geográfico, histórico e sociocultural da Amazônia, inspirando-se em sua vivência como descendente de libaneses e como migrante pelo Brasil.

É autor de romances como Relato de um certo Oriente (1989), livro de estreia, publicado quando tinha 37 anos. O romance é ambientado em Manaus e relata os conflitos de uma família de libaneses, introduzindo questões sobre a construção da identidade do imigrante, um tema característico da obra de Hatoum.

Suas obras, pertencentes à literatura contemporânea, são caracterizadas pelo teor memorialístico, elementos regionais e hibridismo cultural. Além disso, é recorrente a presença de personagens melancólicos.

Onze anos após a publicação do primeiro romance, Milton publica Dois Irmãos (2000). Entre a publicação do primeiro livro e do segundo, publicou diversos contos em jornais e revistas brasileiras e do exterior.

Em 2001, ganhou o Prêmio Jabuti pelo seu romance Dois irmãos e, em 2006, pelo romance Cinzas do Norte, que também ganhou o Prêmio Portugal Telecom. O livro ainda recebeu o Grande Prêmio da Crítica da APCA, o Prêmio Bravo! e o Prêmio Livro do Ano da CBL. Além disso, em 2008, Milton Hatoum recebeu a Ordem do Mérito Cultural. No ano seguinte, ganhou outro Jabuti pelo seu livro Órfãos do Eldorado. Atualmente, é colunista do jornal O Estado de S. PauloEm janeiro de 2017, Dois Irmãos estreou em formato de minissérie na TV Globo, com direção de Luiz Fernando Carvalho.

Obras 

Relato de um certo Oriente (1989); Dois irmãos (2000); Cinzas do Norte (2005); Órfãos do Eldorado (2008); A cidade ilhada (2009); Um solitário à espreita (2013); A noite da espera (2017).






        

 
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