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Até o dia 16 de agosto, alunos indígenas de São Gabriel da Cachoeira realizam a oficina de Arqueologia amazônica no Laboratório de Arqueologia do Museu Amazônico

Publicado: Sexta, 05 de Agosto de 2022, 11h53 | Última atualização em Sexta, 05 de Agosto de 2022, 17h04 | Acessos: 938

“Mais mais do que aprender a catalogar materiais arqueológicos, é uma oportunidade de encontro com nossos ancestrais”, declarou Odanilde Freitas Escobar, aluna da etnia Baré, finalista do curso de Arqueologia da UEA

 Por Márcia Grana

Equipe Ascom Ufam

 Até o próximo dia 16 de agosto, finalistas do curso de Arqueologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), do polo de São Gabriel da Cachoeira, a 853 quilômetros, em linha reta, de Manaus, cumprem créditos das disciplinas Laboratório de Arqueologia I e II, no Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam)

 Terceiro maior acervo do Brasil

Vinculado ao Museu Amazônico, o Laboratório de Arqueologia da Ufam possui o terceiro maior acervo do Brasil e é considerado um dos melhores do país. “Essa oficina de Arqueologia faz parte de uma parceria entre a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) na qual o Museu Amazônico, por meio do Laboratório de Arqueologia, ficou responsável pela prática do curso. Essas atividades constam de treinamento em gestão de acervos arqueológicos e tratamento técnico de artefatos e, mais ainda, fazem a descrição dos artefatos e colocam no banco de dados para acesso de pesquisadores. A vinda destes alunos é extremamente importante para o Museu e para a UEA, não só pelo simples complemento prático de seus estudos, mas oferecer ao município, propriamente a Manaus também, já que temos carência de profissionais nesta área, profissionais qualificados para reproduzir conhecimentos técnicos em Arqueologia. Para nós do Museu, durante todo esse tempo da existência do Laboratório, é a primeira vez quer recebemos uma quantidade significativa de alunos indígenas e de um curso dessa envergadura. Essas atividades pra nós é o início e esperamos que seja de uma série porque o Museu Amazônico também faz a sua parte no auxílio ao ensino e pesquisa, mas também faz a extensão que são as atividades no Laboratório”, ressalta o diretor do Museu Amazônico, museólogo Dysson Teles Alves.

 Turma UEA de São Gabriel

A turma de finalistas do curso de Arqueologia da UEA reúne 22 alunos das etnias Baré, Tukano, Baniwa e Tariana. Até o próximo dia 15 de agosto, os estudantes ficam em Manaus para exercitarem aprendizados sobre a catalogação de acervos arqueológicos, procedimentos que devem ser adotados para identificar o material, quais as formas de armazená-lo e como se realiza o processo de curadoria do material arqueológico.

 Catalogação de acervos

O tutor do Laboratório de Arqueologia, Carlos Augusto da Silva, mais conhecido na Ufam como Tijolo, explica o trabalho que está sendo desenvolvido com a turma. “Catalogar um acervo demora anos, até décadas. No momento, estamos realizando levantamento preliminar do material arqueológico do nosso acervo, que foi inaugurado em 2014, e a turma está nos ajudando nesse processo, principalmente no que se refere à identificação dos materiais”, ressaltou ele.

 Relatos de experiência

Jurandir Farias da Silva é um dos graduandos. Ele relata como está sendo a experiência de colocar os conhecimentos adquiridos em prática.“Estamos fazendo a catalogação de artefatos arqueológicos do sítio Hatahara, localizado em Iranduba. Ao longo desse processo, encontramos vestígios cerâmicos, de carvão, de ossos humanos e pudemos observar que as cerâmicas têm decorações, caricaturas, figuras antropomórficas e zoomórficas”, afirma o estudante da etnia Tukano.

Conexão com ancestrais

Também finalista do curso de Arqueologia da UEA, Odanilde Freitas Escobar, da etnia Baré, também conhecida como Adana, nome indígena que faz referência a uma ilha sagrada de São Gabriel, afirma que mais do que aprender a catalogar materiais arqueológicos, a oficina tem dado a ela a oportunidade de se conectar aos seus ancestrais. “Estamos fazendo a catalogação por caixas. Cada caixa contém peças variadas. Às vezes, uma caixa possui mais de 250 peças e a maior parte das cerâmicas está fragmentada. É uma honra para nós, indígenas do Alto Rio Negro, estarmos aqui e entrarmos em contato com nosso passado, com nossos ancestrais indígenas. Cada detalhe nessas cerâmicas tem um significado, alguns que nem sabemos mais. O que sabemos é que quando foram fabricadas tinham um significado importante. Essa escultura que seguro agora pode ser, por exemplo, uma peça de decoração ou um objeto para pintura corporal. Poderia ser usada para colocar tinta de urucum ou jenipapo para pintura corporal. Mas isso só pode ser confirmado com mais estudos”, reflete a aluna, com a pequena escultura na mão.

 Estudos sobre os ancestrais

Joelma da Silva Anes, da etnia Baré, que tem o nome indígena Wainãnbi, que significa beija-flor em língua portuguesa, afirma que a experiência no Laboratório de Arqueologia da Ufam reforçou o interesse dela e dos colegas em estudar mais sobre os ancestrais. “Com essa oportunidade de catalogar as fichas de estudos que foram feitas há muito tempo, despertou ainda mais nosso interesse de buscar entender cada vez mais sobre a nossa cultura e os nossos ancestrais. É muito gratificante pra todos nós, que estamos na reta final do curso, aprender cada vez mais sobre os detalhes que estão gravados nas cerâmicas, nas decorações, os desenhos que são usados e as formas como são feitos. Tudo isso é muito importante pra cada um de nós”, declara a aluna enquanto analisa uma cerâmica em forma de crânio, que foi coletada pelo doutor Eduardo Goes Neves no sítio Hatahara.

 Laboratório avançado

O aluno João Bosco Pontes Macedo Júnior afirma ter ficado surpreso com a estrutura do Laboratório de Arqueologia da Ufam. “Em São Gabriel, não tínhamos laboratórios para exercitar a teoria aprendida. Está sendo um privilégio colocar nossos conhecimentos em prática aqui na Ufam. Não imaginávamos que o laboratório fosse tão avançado assim. É muito bem estruturado”, disse o estudante da primeira turma de Arqueologia do município de São Gabriel da Cachoeira e da quarta turma da Universidade do Estado do Amazonas.

 Pioneirismo

O arqueólogo do laboratório, Bruno Máximo, ressalta que é a primeira vez que o laboratório recebe graduandos indígenas do Alto Rio Negro. “É Inédito essa turma estar aqui e é urgente que valorizemos a história indígena, que não pode ser contada apenas dos últimos 200 ou 300 anos pra cá enquanto há mais de 12 mil anos de histórias para serem resgatadas. Meu sonho é que, em breve, a Ufam, além desse maravilhoso laboratório de Arqueologia, com o terceiro maior acervo de arqueologia do Brasil e um dos melhores do país, também possa oferecer um curso de graduação ou uma pós-graduação em Arqueologia”, declarou o profissional de arqueologia.

 

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