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Com cinco anos de existência, Centro de Medicina Indígena Bahserikowi comemora a data com o lançamento do livro “O mundo em mim - Uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro”

Publicado: Quarta, 13 de Julho de 2022, 13h19 | Última atualização em Quarta, 13 de Julho de 2022, 14h18 | Acessos: 2044

No próximo sábado, 16 de junho, às 15h, o Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI), ligado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas (PPGAS/Ufam), em parceria com a Editora Mil Folhas, realiza o lançamento do livro “O mundo em mim - Uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro” de autoria do egresso João Paulo Lima Barreto, indígena do povo Ye’pamahsã (Tukano) e doutor em Antropologia Social pela Ufam. O evento ocorre no Centro de Medicina Indígena Bahserikowi, localizado no Centro de Manaus, na rua Bernardo Ramos, nº. 97, e faz parte das comemorações dos cinco anos do Centro, fundado pelo autor em Manaus. 

“A publicação é fruto da minha tese de doutorado e marca o esforço em fazer um exercício de reflexividade sobre nosso sistema de conhecimento para além de mera tradução, com intuito de mostrar que os povos indígenas têm epistemologias e sistemas de conhecimentos próprios fundados nos conceitos e noções claro que norteiam as práticas, as relações sociais-politicas-economicas e as relações cosmopolíticas. Trago para a academia e para a sociedade o debate em torno do conceito de corpo, a partir do sistema de conhecimento indígena Yepamahsã (Tukano). Lembro que esse não foi um trabalho produzido de forma solitária. É fruto de uma construção com os colegas que fazem parte do Neai e com os professores/orientadores do Núcleo. O companheirismo de todos os membros, em especial de colegas indígenas, foi fundamental para aprofundamento de termos conceituais indígenas do Alto Rio Negro. Além do meu agradecimento aos especialistas indígenas kumuã, em especial a meu pai, Ovídio Barreto (Yepamahsu/Tukano), a meus tios, Manoel Lima (Ʉtãpirõmahsu/Tuyuca) e Durvalino Fernandes (Ʉmukorimahasu/Desana) e também Ivan Barreto, Carla Fernandes, Bonison Machado, Clarinda Sateré”, explicou.

O egresso João Paulo Lima Barreto falou ainda da sugestão feita pelo Colegiado Indigena do PPGAS de incluir epistemologias indígenas como política de ensino na Ufam. “O Colegiado emitiu uma carta intitulada “Ufam mais indigena” com propostas com intuito de contribuir com a Instituição UFAM para construção de uma política de ensino sobre as epistemologias indígenas", afirmou.

A tese do egresso João Paulo Barreto foi escolhida por uma comissão do PPGAS para concorrer ao prêmio Capes de melhor tese do ano de 2021. Segundo o coordenador do NEAI, professor Gilton Mendes dos Santos, não é o fato de ser indígena que garante a detenção de uma perspectiva indígena do mundo. “Na maioria das vezes, ocorre o contrário, a longa formação escolar relega e afasta para bem distante as tradições ameríndias. A diferença é que uma construção – e a construção da diferença – feita pelos sujeitos indígenas exige uma imersão profunda, na maioria das vezes sofrível e vertiginosa, nos esquemas nativos de conceber e organizar o mundo e deles identificar, extrair e elaborar esquemas compreensíveis em outros contextos, isto é, de realizar traduções de fato. A trajetória de João Paulo Barreto tem sido, se não um exemplo, um experimento exitoso nessa direção. Tive o privilégio de acompanhar de perto essa jornada instigante, aprendendo, tanto quanto ele, ao longo dessa busca pelo lugar inexplorado e diferente da produção de conhecimento indígena no contexto acadêmico – experiência já narrada por nós em outras publicações”, enfatizou.

O professor falou também do pioneirismo da pesquisa realizada pelo egresso. “O trabalho de João Paulo abriu caminho para um grupo de estudantes indígenas, de diferentes procedências étnicas da grande província etnográfica do Alto Rio Negro, que abraçou o desafio de refletir sobre os conhecimentos indígenas a partir de seus próprios termos, escapando assim, não tão facilmente, da captura proporcionada pelas verdades científicas perpetradas pela escola ao longo de toda a formação acadêmica desses indígenas”, destacou. 

O mundo em mim: uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro

“No livro, o corpo é um microcosmo, síntese das qualidades e substâncias de boreyuse kahtiro (luz/vida), yuku kahtiro (floresta/ vida), dita kahtiro (terra/vida), ahko kahtiro (água/vida), waikurã kahtiro (animal/vida), ome kahtiro (ar/vida) e mahsã kahtiro (humano/vida). Qualquer desequilíbrio desses elementos constitutivos do corpo é capaz de provocar doatise (doenças, desconfortos, desiquilíbrio) no corpo. Temos aqui uma “teoria” de corpo, um modelo de interpretação propriamente nosso (indígena)”, explicou João Paulo Barreto. 

O livro estará disponível no Centro de Medicina Indígena Bahserikowi, no dia do lançamento, e também no NEAI, localizado na Ufam e na Amazon pela Editora Mil Folhas.

Centro de Medicina Indígena Bahserikowi

O Centro de Medicina Indígena Bahserikowi foi idealizado por João Paulo Barreto e durante os cinco anos de funcionamento já atendeu mais de 7 mil pessoas. Dessas pessoas maioria absoluta não-indígenas. O Centro disponibiliza para a sociedade em geral o "Bahsese" (benzimento) dos povos indígenas Tukano, Dessano e Tuyuca do alto Rio Negro em conjunto com as plantas medicinais trata das enfermidades tanto de cunho físico como psicológico.

Esse é um projeto de reconstrução das práticas de cuidado de saúde e cura de doenças dos povos indígenas, que sistematicamente foram obrigados a negar as línguas, os territórios, os corpos. Em resumo, obrigados a negar suas culturas e tradições em nome da civilização. No espaço funciona os seguintes projetos: Centro de Medicina Indígena Bahserikowi, que funciona de segunda a sábado, das 9h às 16h. E, Biatuwi – casa de comida indígena, que funciona de quarta a sábado, das 12h às 16 hs.

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