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Representatividade feminina: seleção de mestrado em Odontologia tem 100% de mulheres aprovadas

Publicado: Terça, 22 de Março de 2022, 15h14 | Última atualização em Quarta, 23 de Março de 2022, 00h03 | Acessos: 1395

Por Juscelino Simões 

Equipe Ascom

O Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas (PPGO/Ufam) realizou no início de 2022 o processo de seleção (Edital 01/2022 Propesp) para a 10a turma do curso de mestrado. Mais de 30 inscritos participaram do certame de seleção, mas somente 14 foram aprovados. Até aí tudo dentro da normalidade de qualquer processo de seleção de mestrado, mas o que chama atenção é que todos os selecionados são do sexo feminino.

As mulheres já são maioria no ensino superior e começam a ocupar as vagas da pós-graduação, conforme recentes pesquisas divulgadas. A presença feminina no campo da ciência demonstra a força delas em diversas áreas do conhecimento. Na ciência odontológica, inclusive reverbera no corpo docente do curso da Ufam composto por 60% de mulheres, a ocupação já é significativa.

O PPGO da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas completa dez anos neste mês e, pela primeira vez, terá uma turma com 100% de discentes mulheres. É um dado emblemático no mês em que se comemora o ‘Dia Internacional das Mulheres’.

Atualmente a região Norte possui apenas dois programas de pós-graduação em Odontologia, um na capital do Pará, e o outro, em Manaus, ambos reconhecidos pela CAPES/MEC. A criação do Programa em Odontologia da Ufam (PPGO) ocorreu em 2012 com a abertura do curso de mestrado.

O coordenador do Programa, professor Emílio Carlos Sponchiado Júnior, falou da importância social do programa de pós-graduação para o estado do Amazonas. “Este ano o PPGO da Ufam completa 10 anos de atividade e é o único responsável pela formação stricto sensu em Odontologia no Amazonas, representando a única opção para realizar um mestrado para os mais de 5.400 dentistas em atuação no Estado. Até meados de março de 2022 o PPGO havia titulado 95 mestres para atuar no mercado de trabalho dos estados da região amazônica. Mais da metade dos egressos atua como docente nos nove cursos de Odontologia situados em Manaus. O PPGO é um curso em consolidação, possui apenas 13 docentes permanentes que se dedicam juntamente com os alunos e gestores para manter seu funcionamento, sempre com esperança de dias melhores”, afirmou.

Uma das novas alunas da turma de 2022 a cirurgiã-dentista Mylla Cristie Campelo Monteiro, ressaltou que quando ainda estava na graduação decidiu pela carreira acadêmica. “Desde o 4º período da graduação optei em seguir a carreira acadêmica. E devido o PPGO da Ufam ser o único no Amazonas a ofertar o mestrado acadêmico em Odontologia, à medida que, obtive informações satisfatórias sobre o curso, decidi me preparar para a seleção pública assim que me formasse. Inicialmente pesquisei o formato do mestrado para compreender o funcionamento das etapas de seleção, com isso planejei uma rotina de estudos de, aproximadamente, oito horas diárias de leituras a partir da bibliografia indicada pela área de concentração do meu interesse, e com muita dedicação obtive aprovação. Estou honrada em fazer parte dessa turma formada, exclusivamente, por mulheres, pois acredito que a representatividade feminina na produção científica é fundamental para a caracterização de uma ciência ressignificada a partir de processos de acolhimento, escuta, empoderamento e competência profissional”, disse.

A discente Mylla Monteiro é orientada pela professora Maria Augusta Rebelo na área de concentração em Saúde Bucal Coletiva. A mestranda desenvolverá pesquisa envolvendo escolares adolescentes, estudando a cárie dentária e fluorose, uma vez que estes agravos podem ter associação com a qualidade de vida relacionada à saúde geral e com comportamentos relacionados à saúde bucal (uso de serviço odontológico, dieta, entre outros), fatores psicossociais (rede e apoio social), fatores socioeconômicos, bem como com o desempenho escolar. Os resultados visam contribuir para o aprimoramento de políticas públicas intersetoriais.

O diretor da Faculdade de Odontologia, professor José Eduardo Gomes Domingues enfatiza a importância da participação das mulheres na FAO da Ufam. “No mês que comemoramos o dia internacional das lutas emancipatórias das mulheres, temos na nossa Faculdade de Odontologia a matrícula de uma turma de pós-graduação formada somente por mulheres. A odontologia brasileira a cerca de 50 anos atrás era uma profissão eminentemente masculina, possuindo mais de 90% de homens. Na final da década de 90, mas precisamente em 1998, acontece a primeira mudança no perfil da profissão no país, e desde este ano, temos uma modificação no perfil da odontologia, configurando-se atualmente como uma profissão com a grande maioria de mulheres. Esta turma do nosso PPGO é símbolo das mudanças que aconteceram na sociedade brasileira e resultado das lutas emancipatórias femininas ao longo de décadas, e que permitiram a ampliação dos espaços ocupados pelas mulheres. Não temos dúvidas que temos muito a avançar e fazer para uma maior ampliação dos direitos, na luta contra a discriminação de gênero e principalmente em relação à violência contra as mulheres, pois, infelizmente, possuímos números alarmantes no país e no mundo”, destacou.

Performance das Mulheres no Ensino Superior e na Pós-Graduação

 Este é um debate de gênero que supõe levarmos em consideração o fato de que a identidade de homens e mulheres é uma construção social que decorre, entre outros fatores, da educação que os sujeitos recebem no processo de socialização e ao longo da história. Advém da assimilação de costumes da cultura dominante, das relações sociais que se estabelecem nos espaços públicos e privados, enfim, tem a ver com a forma pela qual o mundo foi apresentado aos gêneros masculino e feminino. Trata-se de educação e de processos socioeducativos diferentes para homens e mulheres.

Nesse processo de educação e formação diferenciada dos sujeitos, as mulheres foram ficando em desvantagem. Foram sendo subjugadas e relegadas ao segundo plano. Os papéis sociais foram divididos entre masculino e feminino, até mesmo as profissões foram binarizadas entre profissões para homens e profissões para mulheres. Elas foram consideradas inaptas para o pensar, para refletir e produzir conhecimentos, incluindo a ausência de pensamento lógico e a não capacidade para a Matemática, Física, Engenharia, Medicina, Odontologia e outras ciências exatas e complexas.

Mas, elas buscaram se organizar ao longo da história no campo da construção de sua cidadania, para fazerem frente a esse sistema patriarcal. Já obtiveram importantes conquistas, embora ainda elas não se encontrem emancipadas. No campo das profissões as mulheres conseguiram quebrar o bloqueio e adentraram profissões consideradas masculinas.

Hoje, elas estão na plataforma de petróleo, estão na aviação como comandantes, estão no futebol, no parlamento, na política no cargo de Presidenta e Primeira Ministra e nas instituições de poder em variados cargos.

No ensino superior elas já suplantaram o índice de homens presentes nos cursos de graduação. Conforme o IBGE (2021), 57% dos estudantes de ensino superior são mulheres. No bacharelado elas são 54,9% e na licenciatura elas ocupam cerca de 71,3% das vagas dos cursos.

Na pós-graduação em nível de mestrado e doutorado elas estão em franco crescimento, embora ainda não tenham suplantado os homens. O fato de o processo de seleção do Mestrado em Odontologia da Ufam, ter tido aprovação só de mulheres, mostra esse franco crescimento delas na pós-graduação. Isto pode ser interpretado à luz da luta dos vários feminismos e grupos de mulheres que construíram a cidadania feminina ao longo da história, as conferências internacionais de mulheres, nacionais e estaduais também, os acordos internacionais, a pressão da ONU para que os países dêem visibilidade às mulheres e, assim, saírem do baixo nível de desenvolvimento humano. Deve-se, por fim, ao fato de que a sociedade e o mundo ocidental passaram por grandes transformações.

Dentre essas transformações constam: a diminuição do número de filhos; crescimento da autonomia financeira delas (principalmente as de classe média); a convicção de que só a educação as liberta; enfim, as mulheres estão construindo os seus próprios espaços e acreditam no conhecimento, na pós-graduação, como fatores de seu desenvolvimento social.

(Texto da docente titular do Departamento de Serviço Social da Ufam, do Programa de Pós-Graduação, Sociedade e Cultura na Amazônia, diretora eleita do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais – IFCHS, toma posse no dia 1ª de abril de 2022, e líder do Grupo de Estudo, Pesquisa e Observatório Social: Gênero, Política e Poder, vinculado ao CNPq/Ufam (GEPOS), Iraildes Caldas Torres).

 

 

 

 

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