Ufam testa variedade de clones de café para o estado do Amazonas
A primeira colheita começa dia 17 de maio, na Fazenda Experimental da Ufam, e é uma parceria com a Embrapa Rondônia, Embrapa Amazônia Ocidental e Fapeam
Cedo da manhã ou no meio da tarde, o café é um produto presente no cotidiano do brasileiro, mas como saber qual é o grão mais apropriado para ser produzido na região amazônica? Pensando em responder essa pergunta, o projeto “Seleção de clones de Coffea canephora para o Estado do Amazonas”, desenvolvido pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com a Embrapa Rondônia, Embrapa Amazônia Ocidental e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), realizou três ensaios de avaliação para o desempenho de clones de Coffea canephora no estado do Amazonas nos municípios de Manaus, Itacoatiara e Humaitá.
A ideia é selecionar os clones superiores para o plantio com o intuito de difundir a cultura entre os agricultores da região e transferir conhecimentos em cafeicultura. A primeira colheita ocorre dia 17 de maio, na Fazenda Experimental da Ufam. De acordo com a coordenadora do projeto, professora Maria Teresa Gomes Lopes, o projeto reúne agricultores, pesquisadores, estudantes e gestores públicos.
“Os clones foram desenvolvidos pela Embrapa Rondônia e cedidos para avaliação no Amazonas. Até o presente, dois anos após a execução do projeto, foram transferidos conhecimentos sobre a instalação da cultura do cafeeiro e sua condução. Hoje existem no Amazonas, mais profissionais dentro da Ufam (Manaus, Itacoatiara e Humaitá) e Embrapa Amazônia Ocidental, que vivenciaram o desenvolvimento da cultura e que são capazes de apoiar a expansão da cafeicultura no estado. Com o resultado da colheita já teremos a informação sobre a adaptação e avaliação dos clones no ambiente do Amazonas”, destacou.
A pesquisadora lembrou também que em maio haverá colheita em Itacoatiara e Humaitá. “Os ensaios de Itacoatiara e Humaitá também serão colhidos nesse período. Os primeiros resultados serão divulgados no Amazonas na forma de relatório à Fapeam, à comunidade científica e via imprensa para que se possa chegar aos agricultores neste ano atípico de pandemia de covid-19”, enfatizou.
O que é um clone de café?
Antes de chegar na sua xícara, o café passa por um processo que inclui desde a escolha da planta até a seleção dos melhores grãos de cada região. O pesquisador da Embrapa Rondônia, Marcelo Curitiba, explicou como foram escolhidas as plantas que deram origem aos grãos que serão colhidos no Amazonas. “As mudas do café Coffea canephora, que foram para o Amazonas, são chamadas de clones porque são produzidas a partir de galhos de outra planta, por meio de estaquia e não por sementes. Em 2012, a Embrapa Rondônia lançou uma variedade chamada BRS Ouro Preto e em 2019, nós lançamos mais 10 variedades. O material que foi para os testes no Amazonas reúne parte dos materiais da primeira variedade (BRS Ouro Preto) e mais os 10 novos materiais produzidos recentemente”, explicou.
O pesquisador lembrou que além dessa primeira colheita há ainda mais duas safras para serem avaliadas e a intenção é estender a recomendação dessas variedades para o estado do Amazonas. “A seleção dos clones considerou os bons resultados dos testes realizados em Rondônia, também na região amazônica. A Embrapa Rondônia trabalha com desenvolvimento de cultivares, mas também na área de manejo (poda, espaçamento, produção de mudas), técnicas de colheita e pós-colheita para a melhoria da qualidade da bebida e controle de pragas e doenças. São mais de 40 anos trabalhando e participando ativamente do processo de desenvolvimento do café na região”, disse.
Produção de café no Amazonas
Os 15 clones, desenvolvidos em Rondônia, chegaram em Manaus, Itacoatiara e Humaitá. Em Manaus, foram plantados na Fazenda Experimental da Ufam e de acordo com o engenheiro agrônomo da Ufam e um dos responsáveis pelo café produzido em Manaus, Hugo Tadeu, o ineditismo do Projeto está em realizar uma competição de clones, simultaneamente, em unidades de pesquisa de várias regiões do estado.
“Nós colocamos 15 clones de café, testando a adaptabilidade e produtividade, em diferentes regiões do Amazonas. Na Fazenda Experimental há cerca de 2500 metros quadrados de plantação, com 640 mudas e a colheita será feita de forma escalonada já que há um diferencial de tempo de maturação. Nós objetivamos qualidade e a nossa ideia é colher frutos selecionados. Os grãos, depois de colhido, servirão para avaliar a adaptabilidade e produtividade dos diferentes clones”, explicou.
Na cidade de Itacoatiara, o professor da Ufam, Fábio Ferreira, falou que há a previsão de passar três ou quatro safras avaliando o comportamento desses clones. “Tem sido interessante o experimento porque é possível agregar tanto alunos de Iniciação Científica quanto de doutorado em torno do café na região. Essa é a primeira safra e a expectativa é que, a partir dela, possamos definir o comportamento dos materiais, entretanto nas mensurações de características de campo, nós podemos dizer que os clones se comportam de forma diversas, quanto a arquitetura, vigor, produção e resposta aos ambientes e manejo. Além do acompanhamento dos clones, estamos desenvolvendo estudos agregados que são importantes para compreendermos melhor a cultura do café no estado. Pensando nisso, instalamos, recentemente, em março, uma unidade de pesquisa em Urucará com 12 clones”, contou. O docente lembrou ainda que em Itacoatiara o experimento foi instalado na propriedade rural da senhora Santana Elisiário, que tem contribuído de forma significativa com a pesquisa.
No sul do estado, em Humaitá, há uma boa e positiva influência de Rondônia sobre a pesquisa e produção cafeeira. De acordo com o professor da Ufam, Moisés Santos e Souza, a parceria com a Embrapa Rondônia tem sido muito promissora, pois é um projeto que inclui questões científicas e socioeconômicas na área de produção do café. “A avaliação de mudas clonais para as condições ambientais do estado do Amazonas, contribui muito para o desenvolvimento do estado. Na Unidade de Referência Tecnológica de Humaitá, alguns clones de café Robusta Amazônico estão apresentando boas respostas às condições ambientais local e apresentando um excelente desenvolvimento vegetativo e produtivo. Os resultados finais deste projeto poderão fornecer aos pequenos agricultores amazonenses, uma rentável opção de cultivo com a muda clonal que apresentar melhor resposta, inclusive num padrão agroflorestal, respeitando as peculiaridades da região amazônica, fomentando o agronegócio local da forma mais sustentável possível”, enfatizou.
Desdobramentos da Pesquisa
Além do projeto “Seleção de clones de Coffea canephora para o Estado do Amazonas”, existem mais duas pesquisas que envolvem café no estado do Amazonas. A primeira delas é o projeto de doutorado "Compostos bioativos e capacidade antioxidante em clones de Coffea Canephora no Amazonas" do engenheiro agrônomo da Ufam, Hugo Tadeu, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais, vinculado a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Posmat/Unesp), por meio do Doutorado Interinstitucional (DINTER) com a Ufam. A pesquisa pretende avaliar 10 dos 15 clones plantados para identificar os clones que apresentam incremento em relação a sólidos solúveis que é uma característica muito desejada pela indústria do café como também identificar os compostos bioativos presentes em cada um deles. “Temos dados de qualidade da bebida e a proposta é ir além, pelas análises físico-químicas pretendemos identificarmos os cafés que apresentam um maior potencial antioxidante”, explicou o doutorando.
O professor Fábio Ferreira, responsável pela unidade de referência em Itacoatiara, também aprovou o projeto “Café no Amazonas, expandindo fronteiras: adaptação, produção e qualidade" no edital 003/2020 PAINTER/Fapeam para pesquisa nas próximas três safras.
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