Pesquisadores compartilham dados preliminares observados durante a primeira fase do estudo DETECTCoV-19, realizado em Manaus
As conclusões, segundo os coordenadores do projeto, têm o potencial de contribuir para a construção de políticas públicas voltadas para o enfrentamento da pandemia de COVID-19 no Estado do Amazonas.
Por Márcia Grana
Equipe Ascom Ufam
Com o objetivo de estimar a distribuição e o perfil de casos de COVID-19 na população do Amazonas, pesquisadores da Ufam e ILMD/Fiocruz Amazônia iniciaram, em agosto de 2020, o projeto “Epidemiologia de SARS-Cov-2 no Amazonas (DETECTCoV-19)”.
O estudo recrutou 3.046 indivíduos da cidade de Manaus, com idade igual ou superior a 18 anos, residentes nas 4 zonas da cidade, e investigou a interferência de múltiplos fatores individuais e de determinantes ambientais e sociais na conjuntura epidemiológica de COVID-19 no estado do Amazonas.
Principais resultados
Dentre os dados apurados destacam-se que a prevalência de anticorpos IgG anti-SARS-CoV-2 foi significativamente maior em homens do que em mulheres; indivíduos com idade entre 50 e 59 anos estão sob maior risco de adquirir infecção por SARS-CoV-2 do que os indivíduos das demais faixas etárias inclusas no estudo; indivíduos com baixa renda têm prevalência de anticorpos anti-SARS-CoV-2 de 35,5% comparados a 24,45% de indivíduos com alta renda e ter quatro ou mais adultos ou três ou mais crianças morando em uma mesma casa eleva significativamente o risco de um indivíduo ter COVID-19. Confira todos os resultados dessa primeira fase da pesquisa em https://www.ssrn.com/abstract=3774177
Sindemia
Diante de tais resultados, os autores do estudo recomendam que a COVID-19 seja tratada como uma sindemia, ou seja, quando uma determinada doença é agravada por contextos sociais e econômicos. “Os dados apontam para o fato de que a COVID-19 em Manaus tem relação com desigualdade social, o que guarda sintonia com o cenário que temos visto em todo o mundo, onde os mais vulneráveis estão sob o maior risco de adquirir a infecção por SARS-CoV-2, bem como têm maior propensão a evoluir com quadro de doença severa. Portanto, ao tratá-la como uma sindemia, recomendamos medidas que atravessem determinantes sociais e ambientais”, destacou a coordenadora do estudo na Universidade Federal do Amazonas, professora Jaila Borges.
Transmissão intrafamiliar
Ela também recomenda que seja realizado um acompanhamento dos casos diagnosticados e adotadas medidas para garantir efetivo isolamento social. “A pesquisa revelou que o isolamento domiciliar de pessoas diagnosticadas com COVID-19 não está funcionando em nossa cidade, uma vez que a prevalência sobe demasiadamente entre indivíduos que têm um membro da mesma residência com diagnóstico de COVID-19 ou tem óbito pela infecção. Desta forma, recomendamos que seja realizado o acompanhamento tanto das pessoas diagnosticadas quanto dos demais indivíduos que habitam a mesma casa para dar condições para que o isolamento seja cumprido e impedir a transmissão intrafamiliar”, ressaltou a pesquisadora.
Subsídio à gestão da saúde pública
Os dados obtidos ao final da primeira fase do projeto foram encaminhados para dirigentes das entidades das esferas federal, estadual e municipal encarregados da gestão da saúde pública no Estado do Amazonas para subsidiar precisas ações de enfrentamento. “Acreditamos que esta pesquisa mostra-se como importante contributo da ciência para a concepção e para a execução de políticas públicas de enfrentamento da COVID-19”, afirmou a professora Jaila Borges.
Combate à Covid-19 na UFAM
Na Ufam, a produção científica norteará as próximas iniciativas do Comitê de Combate à COVID-19 na Universidade. “A Universidade Federal do Amazonas vem cumprindo o seu papel na produção de informações sobre nossa realidade no contexto da pandemia. O presente estudo nos dá o direcionamento da distribuição espacial da doença, define os aglomerados de soropositivos em diferentes áreas da cidade de Manaus e, acima de tudo, mostra a importância da transmissão intradomiciliar. Esse conhecimento permite focalizar o problema e implementar as medidas de controle para proteção individual e coletiva. Também fica patente a desigualdade de sua ocorrência em diferentes classes sociais, a predominância e diversificação entre as características das pessoas que estão adoecendo de COVID -19, o que permite a identificação de grupos prioritários para as ações de controle” afirma o presidente do Comitê, infectologista Bernardino Albuquerque.
DETECTCoV-19 - Próxima fase
Na próxima fase do projeto, que ocorrerá em março, será possível averiguar o impacto e as consequências da segunda onda de COVID-19 na população acompanhada no estudo, antecipa a professora Jaila Borges.
Redes Sociais