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Ao defender tese sobre os desafios da educação escolar indígena Sateré-Mawé, Josias Sateré torna-se primeiro doutor do território Marau-Andirá

Publicado: Sexta, 07 de Março de 2025, 12h14 | Última atualização em Sexta, 07 de Março de 2025, 12h26 | Acessos: 241

"Existe uma conexão entre 'educação indígena’ e ‘educação escolar indígena’. Nessa fronteira é que atuam as lideranças, as grandes incentivadoras da educação escolar indígena específica e diferenciada", explica o pesquisador

 

Josias Sateré é originário da aldeia de Ponta Alegre, localizada no município amazonense de Barreirinha, para onde retornou com o olhar de pesquisador da educação para se tornar o primeiro doutor na área daquela aldeia e do território Andrirá-Marau/AM ao defender a interculturalidade como caminho possível para se construir uma educação escolar indígena dialógica e contextualizada. A tese "Sateré-mawé: desafios de lideranças e de professores na construção da educação escolar indígena na aldeia de Ponta Alegre, município de Barreirinha/AM" foi defendida no último mês de fevereiro, no Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ/Ufam).

A pesquisa, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas (PPGE/Ufam), foi desenvolvida por Josias Ferreira Sateré e orientada pela professora doutora Hellen Cristina Picanço Simas. No trabalho, ele aponta os desafios experimentados por lideranças e educadores na aldeia, inclusive na conjuntura da pandemia de covid-19. O ponto central é, contudo, a apresentação de uma perspectiva educacional construída em conjunto com os elementos da cultura indígena, atribuindo aos saberes ancestrais da comunidade o devido protagonismo.

“Existe uma conexão entre ‘educação indígena’ e ‘educação escolar indígena’. Nessa fronteira é que atuam as lideranças, as grandes incentivadoras da educação escolar indígena de fato Sateré-Mawé, isto é, específica e diferenciada. Os desafios foram percebidos principalmente na pandemia: as políticas de educação escolar destinadas àquele povo eram precárias, ineficientes e aquém da demanda das aldeias, das escolas e dos professores indígenas”, sustenta o pesquisador.

Segundo a orientadora da tese, professora Hellen Simas, as universidades devem assumir o desafio de não apenas promover o acesso de indígenas aos cursos de pós-graduação, mas também a sua permanência, formando uma rede de apoio em questões como a língua, porque muitos deles têm o português como segunda língua. “Esse processo necessita de acolhimento a partir de um olhar decolonial para esses pesquisadores. Em particular, o orientador tem o papel de compreender a cultura, e não de impor aquela praticada na universidade, estabelecendo o diálogo intercultural que é capaz de propiciar o crescimento da própria instituição ao agregar os saberes indígenas”, enfatiza a professora Hellen Simas.

Saber ancestral & Interculturalidade

Waraná é a nossa ciência. Waraná é a nossa cultura. Waraná é o nosso conhecimento. Se temos êxito em trazer essa cultura para a universidade, trazemos também as experiências do povo e os seus saberes ancestrais. Esse processo se concretiza através do diálogo, porque nós entendemos que só é possível ter uma educação escolar indígena Sateré-Mawé por meio da construção coletiva e da demanda do povo, pois somente ele sabe a educação de que precisa e aquela almeja e merece”, conclui o agora doutor Josias Sateré.

O PPGE, em que a professora Hellen atua na orientação de projetos na área de educação escolar e línguas indígenas, sempre oferta vagas exclusivas para esses pesquisadores. “Durante as orientações, permaneço atenta para não apagar as marcas do português indígena, como chamamos, e permitir que apareça a autoria, sempre buscando o diálogo com a universidade e as expectativas em torno do texto acadêmico produzido a partir desse encontro”, explica ela.

Esta Universidade também se enriquece ao se permitir conhecer e trazer para o campo da pesquisa novas formas de investigação, diferentes modos de se relacionar com os temas (inclusive ao observar a pertença havida entre o pesquisador e seus interesses de pesquisa), entre outros aprendizados. A partir de agora, Josias Sateré pode seguir como orientador de outros trabalhos de perspectiva não colonizadora, e como liderança no tema para ajudar na formação de seus próprios parentes sobre o tema da educação.

Defesa

A defesa ocorreu de forma híbrida, com apresentação presencial no Laboratório de Videodifusão do ICSEZ e transmissão virtual. A banca examinadora foi composta pelas professoras doutoras Fabiane Maia Garcia e Jonise Nunes Santos, ambas vinculadas ao PPGE/Ufam, e pelos professores doutores Shelton Lima de Souza, da Universidade Federal do Acre (UFAC) e Edilson Baniwa, do Instituto Federal do Amazonas (Ifam).

Os avaliadores ressaltaram a relevância histórica do momento para a Ufam, para o PPGE e para o povo Sateré-Mawé, que tem agora o primeiro membro da comunidade com doutorado. "E um dia histórico", enfatizou o também indígena professor Edilson, do povo Baniwa.

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