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Paz mundial é discutida em encontro 'Diálogos sobre a Amazônia'

  • Publicado: Segunda, 07 de Outubro de 2019, 16h49
  • Última atualização em Segunda, 07 de Outubro de 2019, 16h56
  • Acessos: 1457

Por Sebastião de Oliveira

Equipe Ascom Ufam

O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) reuniu, na última sexta-feira, 4, no Hall do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Amazonas (IFCHS/Ufam), localizado no setor Norte, especialistas, intelectuais e interessados no debate sobre a paz mundial, foco do encontro intitulado 'Diálogos sobre a Amazônia: desenvolvimento, meio ambiente e soberania brasileira'. Na ocasião foi instalado o núcleo estadual do Amazonas do Cebrapaz  que contou com a participação do presidente nacional da entidade, Antônio Barreto.

O Centro tem como objetivo debater o equilíbrio social com vistas à paz mundial, bem como levar a público denúncias de crimes de guerra, massacres de populações e torturas. Também é um espaço para prestar solidariedade aos povos que lutam por seus direitos sociais e políticos em meio a regimes que vão de encontro aos preceitos humanitários.

No evento, o diretor do Centro de Ciências do Ambiente (CCA/Ufam), professor Eron Bezerra, esteve acompanhado pelo diretor do Museu da Amazônia (Musa) e presidente de honra da Sociedade Brasileira do Progresso da Ciência (SBPC), professor Ennio Candotti; a representante da Universidade Nilton Lins, professora Alíria Noronha que formavam o quadro de debatedores que abordaram sobre a Paz Mundial.   

Em análise, o professor Eron Bezerra afirmou que nesse momento que a lógica do governo federal tem na sua essência a agressividade, a defesa da paz é fator fundamental que para o docente entende como  ato revolucionário. “No momento em que o governo é agressivo, levantar a bandeira da paz é a maneira mais inteligente de isolar esse tipo de gente. Por isso, parabenizo pela oportunidade de lançamento do Cebrapaz, porque corresponde a uma estratégia de isolamento do inimigo para que depois se possa derrotá-lo”, disse o professor.  

Para Eron Bezerra, a Amazônia foi a primeira grande derrocada do governo atual, em razão pelo qual se utilizava tática impressionista para que o mundo ficasse assistindo passivamente o desmatamento da região, no entanto, a Amazônia tem caráter estratégico. Ele exemplifica um fenômeno natural de vazão do Rio Amazonas que delimitado pelo docente disse que no espaço de 19 dias sucessivos decorre o fornecimento de 7 litros de água por dia a 7,5 bilhões de habitantes do planeta terra.  Além disso, o professor cita como forma ilustrativa da riqueza amazônica, as cadeias de bactérias e fungos que, segundo ele, valem ouro.  

Para ele, o interesse é tanto sobre a Amazônia que durante o período do Ciclo da Borracha, em que a elite econômica lucrou tanto com a matéria prima que obrigava o homem amazônico a desviar atividades de culturas agrícolas como a banana, macaxeira e outras, para segundo plano. O docente disse que assim como ocorria à exploração do trabalho nesse período, outras formas de ocupação ocorriam com o desmatamento  da floresta através da agropecuária que atraídos  pelas terras inexploradas se deslocavam do sul do país, comprometendo o clima do planeta. Eron Bezerra descarta a máxima de que a Amazônia é o pulmão do mundo, e vai além, acreditando que a região é o grande termômetro do mundo, a qual mantém o equilíbrio da temperatura do planeta.             

Ennio Candotti aborda fato ocorrido no período da ditadura militar no Brasil que registrou na sua história a opressão da sociedade civil brasileira. A explosão de uma bomba acionada por um capitão do Exército no Centro de Convenções Riocentro, em 30 de abril de 1981, é para o diretor do Musa, o início da derrocada do regime autoritário. Comparável a esse fato, Candotti disse que hoje estamos vivendo algo parecido e cita o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro (RJ), Marielle Franco como o fato que também dá início ao embate político. Para ele, de lá para cá, a sociedade brasileira ganhou “meia paz”, obtendo grandes avanços democráticos sólidos e exemplificou a Constituição de 1988, como representação da resistência ao autoritarismo que permitiu o avanço social. Para ele, a promulgação da legislação brasileira até hoje nunca foi “digerida” pela classe dominante brasileira.

Seguindo sua explanação, Candotti atribui o incêndio na Floresta Amazônica como o terceiro fato de agressão a sociedade brasileira. “Não podemos deixar que esse incêndio passe batido como fenômeno casual”, completou o pesquisador que faz analogia ao primeiro fato abordado: “o incêndio na floresta é outra bomba que explodiu no colo dos mandantes em que teve repercussão internacional e de segmentos em defesa da floresta”. Para ele, a Amazônia é um depósito de informações biológicas e genéticas para toda a humanidade onde se concentra grandes reservas minerais que evoluíram há mais de 6 bilhões de anos.

Alíria Noronha questionou: como é que nós cultivamos a paz nesse momento em que sofremos tantas ameaças aos direitos humanos e ao meio ambiente? Segundo ela, é difícil para a sociedade lidar com isso, onde vivemos momentos de perdas como os direitos humanos, políticas públicas, propriedades individuais e outras. Ela entende que promover a paz no Brasil exige rebeldia, pois, de acordo com a docente, “a gente não pode ter uma atitude de subserviência e submissão, mas acredita na promoção da paz que requer rebeldia, pois, é uma reação bastante ativa contra todos os ataques a sociedade brasileira.”

O presidente nacional da Cebrapaz, Antonio Barreto, disse que é muito simbólico discutir a questão Amazônia na Universidade e dentro da floresta. “Nesse momento que, justamente quando a Amazônia vem sofrendo ataques que colocados em relação a situações em que vivemos em nosso país, de regressão da pauta cultural e civilizacional, se faz necessário compreender a paz. A pauta que discute o desenvolvimento da Amazônia e do meio ambiente está vinculada a luta internacional ao anti-imperialista e a dominação”, finalizou o presidente.  

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