Museu Magüta expõe fotografias de objetos Tikuna coletados há 200 anos
Ao todo, 20 fotografias estão em exposição permanente no Museu Maguta, em Benjamin Constant. As imagens registradas são resultado da tese em andamento 'Museu Magüta, uma trajetória Tikuna', de autoria de Silvana Teixeira, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas (PPGAS/Ufam). A exposição abrange fotos da Coleção Spix & Martius, do Museum Fünf Kontinente – MFK, de Munique, e de outros museus da Europa.
De acordo com a discente, a coleção conta com 92 peças, sendo 58 ainda existentes e 34 registradas em catálogo. Das 58 peças foram constatadas 45, sendo 23 da etnia Tikuna e 22 dos Juri-Taboca. Para a pesquisadora, o trabalho desenvolvido no Museum Fünf Kontinente propiciou o acesso às peças, trazendo à luz o conhecimento sobre os objetos coletados nas comunidades indígenas Tikunas há 200 anos.
Em julho deste ano, a doutoranda, sob orientação da professora e pesquisadora do Instituto Brasil Plural e do grupo de pesquisa Maraca, Deise Lucy Montardo, retornou ao Museu Magüta, museu do Povo Tikuna, para compartilhar com os indígenas os resultados de sua pesquisa sobre objetos desta etnia. Silvana Teixeira disse que o levantamento dos objetos aconteceu durante o seu doutorado-sanduíche, na Ludwig-Maximilian Universität (LMU), em Munique, Alemanha, no período de 2018/2019, sob orientação do professor Wolfgang Kapfhammer daquela universidade europeia.
História
No ano de 1817, Maria Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, muda-se para o Brasil por ocasião das núpcias contraídas com D. Pedro de Alcântara, que mais tarde se tornaria o primeiro imperador do Brasil. Acompanhava Leopoldina uma expedição científica composta por ilustres estudiosos do reino da Áustria, como o taxidermista Johann Natterer responsável pelo setor de zoologia. Do reino da Baviera foram enviados pelo rei Maximilian José, os zoólogos e médicos de formação Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Phillip von Martius. Nos anos de 1817 a 1820, Spix e Martius empreenderam viagem pelo interior do Brasil coletando amostras e reunindo informações sobre a fauna, flora, o clima, os povos nativos, os minérios e tudo o que considerassem relevante para os estudos científicos e de viabilidade econômica para a época.
Em 1819, chegam a Belém no Pará e, de lá, partem em viagem pelo Rio Amazonas. Enquanto Martius, uma vez na região de Tefé, decidiu navegar pelo rio Japurá, Spix seguiu viagem pelo Solimões, no dia 7 de dezembro de 1819, e chegou a Tabatinga a 9 de janeiro de 1820. Retornou à região de Manaus em 3 de fevereiro desse mesmo ano. Spix esteve na região de São Paulo de Olivença, onde coletou máscaras e outros objetos utilizados no ritual da “moça nova”, o rito de iniciação feminina que ainda hoje segue sendo realizado pelo Povo Tikuna.
As máscaras coletadas por Spix entre os Tikuna e as máscaras adquiridas com os Juri-Taboca no Rio Japurá, por Martius, possuíam grandes semelhanças e passaram para a história em uma litogravura na qual participavam juntas de um ritual dos Ticuna. Uma publicização contextualizada foi a escolha para compartilhar com os indígenas no Museu Magüta as informações do que existe sobre os mais antigos objetos Tikuna e onde estes objetos estão localizados. O intuito é que os indígenas se apropriem dessas informações para uso em suas próprias pesquisas.
A fotografia tornou-se um meio de aproximação dos objetos que estão nos museus etnológicos. Anka Krämer, responsável pelo arquivo de fotografias do Museu Fünf Kontinente, doou um conjunto de 20 fotografias impressas em alta qualidade para que pudessem ser expostas no Museu Magüta. Além destas, foram doadas 40 fotografias dos arquivos do MFK e informações sobre os acervos, bem como fornecido o contato dos curadores dos museus que fizeram parte desta pesquisa.
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